quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O FILHO DO HOMEM


"A mente adora imagens cujo significado é desconhecido, uma vez que o próprio significado da mente é desconhecido"
René Magritte (1898-1967)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

The year of the mouse

Sei que ando ausente. Os dias passam na velocidade de um pavio de bomba e o blog fica encostado. Em minha defesa apelo ao senso de final de ano, aquele que diz: trabalho, trabalho, trabalho. Não dá nem tempo pra pensar. Quando menos se espera, pow!, outro final de ano, mais um bloquinho de Lego no castelo, outra peça qualquer da engrenagem de uma peça só... sem contar que dezembro chove; principalmente pra quem vai passar a virada na cidade natal. Antes da chuva, porém, o calor e a seca! Quantos banhos você toma por dia? Pois então, questionamentos fazem-se necessários em momentos extremos. Meditação ajuda, principalmente a técnica do urso. Aliais, foi o polar um dos primeiros a falarem que esse seria “O” ano. Significados variados. O ano passou rápido? Ou será que devagar?

"Se o barato é lento e o processo é louco, deixa eu nagevar sem piloto" filósofo anônimo

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ode ao Tiroteio

Um dos meus grandes amigos, também conhecido como senhor Prado, anunciou hoje em seu blog que em breve deve encerrar as atividades e cessar-fogo, em função de outros projetos. Nada contra ele correr atrás das paradas dele, mas por favor não pára de escrever em seu espaço tão contundente. O tiroteio já me salvou em vários momentos, como uma rajada de balas incandescentes. Por isso eu digo que fique. Vida longa ao Tiroteio! ... Ah, por conta dessa história toda, acabei lembrando de um poema do inigualável Glauco Mattoso. O rapper pode até estar do lado de cá, mas essas palavras tem muito a ver contigo, mané.

Soneto ao Rapper:

De cor, mulato, pardo, negro, preto.
O branco é simplesmente branco, e só.
Você quer mais respeito, não quer dó.
Quer ser um cidadão, não quer o gueto.

No sul, no Pelourinho, no Soweto,
lutando contra o falso status quo
da máscara, a gravata e o paletó:
A letra é mais comprida que um soneto.

Seu canto já foi blues, quase balada;
Foi soul, foi funk e reggae; agora é bala
perdida em tiroteio de emboscada

Xerife do xadrez, você não cala:
leva a periferia pra parada,
de sola entra no som da minha sala.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Guess who’s coming to dinner?

A Besta voltou! E com uma bagagem cultural pesada. É clichê, mas é verdade: a Europa é o berço da civilização ocidental. Foi lá que Miles Davis pela primeira vez provou o gostinho do reconhecimento. O mesmo aconteceu com Jimi Hendrix, e outros tantos. Não à toa que o velho continente produziu tanto nos últimos séculos.

Logo na chegada, no aeroporto de Lisboa, um emocionado aperto de mão num simpático Herbie Hancock. Para contar pros meus netos. Isso porque eu vinha falando nele nas semanas anteriores. (Ah, em Barcelona ainda ia rolar o reencontro histórico de Chick Corea e John McLaughlin. Desde Bitches Brew os dois não tocavam juntos. Pena que tivemos de seguir o rumo. Torcer pra esse show passar no Brasil).

Ao longo da trip foram muitos museus: renascimento, gaudiísmo, futurismo, surrealismo, cubismo, vangoghísmo, expressionismo, abstratismo, modernismo... O que você pensar a Europa oferece à preços convidativos, pelo menos para os europeus. Acesso direto à matriz.

E é assim mesmo como lhe contaram: tudo muito lindo, limpo, simples e seguro. As coisas funcionam, os policiais são educados, as criancinhas falam francês, as pessoas pedem licença, os gatos ficam parados nas vitrines e as bicicletas de Amsterdam são decoradas com flores, no melhor estilo dutch de se viver.

A única coisa ruim foi o frio, justamente na Holanda. Ainda bem que existem os aquecedores internos. Mas haja saco para colocar todas as roupas da mala e depois ter que tirar no primeiro bar, pra depois colocar tudo de novo.

Voltar e rever os amigos é a parte fácil, o difícil é trabalhar pra pagar o cartão de crédito.
Ps: Agradecimentos especiais à Mari e ao Carlinhos, que mostraram do que a verdadeira Barcelona é feita. Sem palavras para descrever minha gratidão.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

QUERIDOS LEITORES:

A Besta dá um tempo nas atividades geométricas para tirar merecidas férias.

Não me procurem, pois estarei longe da caverna quadrada.

Volto em novembro.

Aos que ficam um forte abraço, uma mordida no crânio e um beijo no cérebro.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Entre o Silêncio e a Brisa: O Quinteto Perdido de Miles Davis.

Fevereiro de 1969. Logo depois de gravar a pedra fundamental do fusion* – In A Silent WayMiles Davis resolveu dar uma enxaguada em sua numerosa banda de estúdio e sair em turnê de divulgação do mais recente trabalho. Para desespero dos puristas, o novo disco escancarava de vez o romance extraconjugal do trompetista com o rock, ainda que soasse calmo e pacífico (principalmente na faixa-título). A obra antecipava as mudanças por vir. E essas transformações começaram a ser sentidas também nos shows – com “standards” substituídos cada vez mais rápidos por novas composições originais, inclusive de novos parceiros.

Na verdade, as saídas do baterista Tony Willians e do baixista Ron Carter – depois das gravações de In A Silent Way e Filles de Kilimanjaro, respectivamente – abriram o espaço para a chegada de jovens músicos. Estes, iam se acumulando em ensaios e revezando-se nas gravações (no melhor espírito comunitário da época). E Miles gostava daquelas novas figuras cabeludas, faziam-no sentir-se rejuvenescido. Não que ele precisasse. Apesar de ter entrado na casa dos 40, estava no auge da forma física, cultivando o corpo à base de extenuantes treinos de boxe e um perigoso coquetel de drogas (legais e ilegais). Pra poucos.

Ao vivo, resolvera voltar ao consagrado esquema do quinteto de jazz clássico: com dois instrumentos de sopros e três na seção rítmica. Mas de clássico o grupo não tinha nada. Pelo contrário. Queriam quebrar a barreira do som sem precisar entrar num caça militar. Os próprios insistiam em serem classificados como uma banda de rock. Só que não se encaixavam bem nessa categoria. Quer dizer, em nenhuma. No mês março de 1969, depois de quase quatro anos, o The Miles Davis Quintet pisava novamente em um palco em Nova Iorque. Só que nesse meio tempo tudo havia mudado. De um tipo de azul para as cores psicodélicas.

Dentro da mitologia milesniana esse grupo ficou conhecido como o “The Lost Quintet”(ou “The Third Great Quintet”, para os mais entusiasmados) e era formado pelo sempre inspirado Wayne Shorter (sax), o calculista Chick Corea (teclado), o cativante Dave Holland (baixo) e o feroz Jack DeJohnette (bateria). O pertinente apelido deve-se ao fato da formação nunca ter entrado no estúdio para gravar um disco como quinteto, pois só trabalharam juntos em colaboração com outros músicos, em sessões com o próprio trompetista. Assim, durante muito tempo, não houve outro registro senão a prejudicada memória dos fãs.

Em pleno verão de 69, seis meses depois de gravar o último álbum, um grupo ainda maior de músicos trancou-se no estúdio para conceber a obra-prima do fusion – e o segundo disco mais vendido do artista – Bitches Brew. Muitas das composições gravadas surgiram em ensaios e improvisações do novo quinteto, durante as apresentações na primavera anterior. O grupo fixo começava a dar bons frutos. Resultado da química explosiva entre a sólida cozinha e a beleza caótica dos metais. Confluência de ritmos direcionada para além dos limites prováveis. Com Bitches Brew, Miles atinge seus objetivos artísticos quando resolveu embarcar pela primeira vez no colorido ônibus da contracultura.

Enquanto esperava o álbum chegar as lojas era hora de jogar-se novamente nas curvas da estrada. E o grupo não poderia ser outra senão o Quinteto Perdido. Durante meses trabalharam sem parar. Apresentaram-se nos maiores festivais de música e casas de shows da época – ao lado de bandas de rock – para um público muitas vezes alheio à história musical do trompetista. Em abril de 1970, com o lançamento do disco no mercado americano, veio a consagração.

Começo dos anos 2000. Sai It’s About That Time: Live from Fillmore East, a fita perdida do Quinteto Perdido. Gravado em março de 1970, o repertório traz músicas dos últimos discos até então: In A Silent Way e Bitches Brew (ainda que o último não tivesse sido lançado). Um adendo importante: nesse concerto (como em muitos outros) a banda apresenta-se como um sexteto, já que conta com a participação especial do percursionista brasileiro Airto Moreira. Ainda assim, é o mais perto que podemos chegar desse tesouro enterrado sob a areia do tempo.

O registro ao vivo merece destaque por trazer a despedida de Shorter como membro regular da banda (representando também o fim do Quinteto Perdido). O saxofonista saiu para montar o grupo Weather Report, juntamente com o pianista Joe Zawinul. Os outros colegas também aproveitaram o momento para formarem seus próprios conjuntos, tendo Miles (e o fusion) como norte criativo.

O Quinteto Perdido, mesmo com um breve período de existência, conseguiu deixar profundas marcas na história da música. Hoje, podemos notar a influência do conjunto (e das bandas posteriores do trompetista) tanto na música eletrônica quanto no rock e no hip-hop. A polêmica “fase elétrica” foi redimida por DJ’s e curiosos em geral; e atualmente é objeto de culto de admiradores dos mais variados estilos musicais. Miles Davis era um cara do futuro, um visionário. O distanciamento acabou provando o valor de suas experimentações.

*O fusion, verdade seja dita, nasceu uns dois anos antes, no disco de Cannobal Adlerey, 74 Miles Away (1967), em faixas como Directions (composição de Zawinul). Mas devemos frisar que os experimentos elétricos de Miles são praticamente da mesma época, remetendo ao "Segundo Grande Quinteto", e podem ser apreciados em álbuns como Nefertiti (1967), Miles in the Sky (1968) e Filles de Kilimanjaro (1968). Eu chamo In A Silent Way de "A" pedra fundamental porque foi o primeiro disco de um artista de jazz gravado inteiramente com instrumentos plugados. Entendido? Então firmeza.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Retorno da Vampira

Numa dessas boiadas da vida, assisti ontem ao ensaio aberto da remontagem de O Mistério de Irma Vap – que estréia amanhã. A peça, encenada no Brasil pela primeira vez em 1986, é um das maiores bilheterias do teatro no país. Marília Pêra volta para dirigir o espetáculo numa estrutura semelhante ao original bem-sucedido. O texto, por exemplo, continua o mesmo (com pequenas alterações). A grande mudança é a substituição da dupla de atores. Saem Ney Latorraca e Marco Nanini para a entrada de Cássio Scapin e Marcelo Médici. O que poderia ser um peso (substituir tais monstros), transformasse em descontração e eficiência; provando que os novos protagonistas têm o fôlego necessário para encarar o desafio. Médici está impagável e lembra muito o Nanini em cena. Scapin teve alguns problemas, mas nada que ele não consiga resolver em duas semanas em cartaz. Ainda sobram-lhe carisma e competência. A química entre ambos também tende a melhorar. E dá-lhe troca de roupas, humor inventivo, entra-e-sai frenético, piadas históricas... tudo hilário. É pra chorar de rir. Eu desejo merda pra eles, mas na real nem precisa. É jogo ganho antes de começar.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

#White Light#

#Raros amigos, esqueçam a parafernália hollywoodiana de Batman e sua suposta filosofia embutida (ou enlatada). O filme do ano é outro e já estreou no Brasil. Das trevas fez-se a luz da cegueira no novo longa assinado por Fernando Meirelles (o nosso Spielberg, hehe).#

#Blindness é profundo como um poço de merda. Calma, isso é um grande elogio. Um daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a condição humana - e como somos bestas disfarçadas de deuses. É intenso, perturbador, sinistro. Consegue emocionar sem apelar. A catarse acontece, mas de maneira gradual... digestiva.#

#“Pra variar” a equipe técnica faz um trabalho invejável. Direção sem comentários. Roteiro incisivo, metódico, quase sem falhas. A edição, mesmo com tantos problemas, mostra-se segura (e sinceramente, não sei se quero assistir a versão sem cortes). Os efeitos sonoros são uma obra à parte, incríveis! Só a atuação de alguns poucos atores deixa a desejar, e mesmo assim ofuscados por grandes interpretações.#

#Lembra daquele vídeo da internet? Então, fiquei com a impressão de que os cegos somos nozes. Tateando a imensidão branca, lendo o mundo em braile.#

#Ah, antes que eu me esqueça, o homem por trás da história, no alto de seus 85 anos, acabou de criar um blog. Isso mesmo, José Saramago virou bloguero. Visite aqui: http://caderno.josesaramago.org/ #

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Queima!

O cultuado quadrinista americano, Charles Burns, expõem pela primeira vez suas ilustrações em uma mostra individual. Como está acontecendo lá em Nova Iorque, vou deixa-los com o link das obras. O traço expressionista de Burns ratifica porque ele é considerado um dos melhores da atualidade (já faz tempo). Ah, reparem nos desenhos (antigos) que ele fez dos mestres William Burroughs e Robert Crumb, no final da página.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

babaloo

eu sou a chama da vela do santo
eu sou como um touro correndo no campo
eu sou o pé pisando na terra
eu sou como a bomba estourando na guerra
eu sou o bebê chorando por peito
eu sou o homem velho morrendo no leito
eu sou o trovão assustando a cadela
eu sou a rosa, o cravo e a canela

babaloo, babaloo, babaloo aê

balango, balango, balango na terra
balango mas não caio e geralmente ganho a guerra


André Abujamra

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

notas premiadas

O Vídeo Music Awards (VMA), premiação da MTV americana, aconteceu ontem em Los Angeles comemorando 25 anos de existência. E se levarmos em conta a história do astronauta de prata, e os artistas que já se apresentaram nas cerimônias anteriores, a edição desse ano deixou muito a desejar. Os vencedores são sempre os mesmos, se revezando nas principais categorias. E as apresentações ao vivo são sempre a mesma m...., muita produção e pouca alma. Estúdios enormes, painéis gigantes, dólares e mais dólares, e pra que? Pra bandas de segunda linha, rappers meia boca, adolescentes que mal saíram das fraldas, artistas de caráter duvidoso. Enfadonho? Magina. Mas parece ser a regra do lado de lá.
***
E o Festival de Veneza concedeu o Leão de Ouro para “The Wrestler”, novo longa de Darren Aronofsky (Pi, Réquiem, A Fonte da Vida). A história narra as dificuldades de um lutador de luta livre tentando retomar a carreira profissional. O lendário Mickey Rourke (Rumble Fish, Angel’s Heart) é o protagonista do filme que deve lhe render uma indicação ao Oscar de melhor ator. Especulação? Magina.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A resposta do post anterior


Como nascem as águas-vivas?


Assisti ontem ao surpreendente documentário A Invasão das Águas–Vivas. Transmitido pelo canal pago NatGeo, o filme mostra a misteriosa explosão da população de águas-vivas nos últimos anos (com efeitos sentidos tanto no Japão quanto no Brasil). Para os cientistas, o aumento da temperatura dos oceanos – devido ao aquecimento global – está ocasionando uma mudança na memória genética dessas estranhas criaturas. A maior incidência de “zonas mornas” nos mares facilita sua proliferação, e a poluição pode ser outro fator favorável. O documentário aproveita para denunciar que o buraco é mais embaixo. O alerta fica aos pesqueiros japoneses que lançam suas redes para “pescar” nomuras gigantes (ao chegarem na superfície são esquartejadas a golpes de foice). No momento da morte, porém, na tentativa de preservar a espécie, jogam no mar milhões de óvulos e espermatozóides que serão fecundados, gerando centenas de milhares de outras águas-vivas. Ao final da fita fiquei com a bizarra sensação de ter assistido uma narrativa de terror ou ficção científica apocalíptica. Nada disso. Trata-se apenas de nossa nova realidade. Sinistro.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Jaya Ganesha


Está sendo comemorado hoje (no Brasil, não na Índia) o nascimento de Ganesha.
O Festival Chaturthi (celebrado no quarto dia do mês lunar de agosto/setembro) é considerado o mais alegre de todas as festividades hindus; e o deus-elefante um dos mais queridos da religião.

vakratunda mahakaya suryakotisamaprabha
nirvighnam kuru me deva sarvakaryesu sarvada


Ó Senhor, que possui um corpo imenso, do tamanho do universo, que tem adorno de uma tromba curva, que é a luz do conhecimento igual a mil sóis! Sempre, em todos os meus empreendimentos, me faça livre de todos os obstáculos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Um conto para Gotham (parte 2)

A mente é um macaco bêbado – e em chamas – depois de levar uma picada de cobra

(provérbio indiano).
***
... No caminho para o trabalho, ao acaso, lembrou-se do encanto do desconhecido e das PRIMEIRAS vezes que foi jogado naquela montanha-turca: o sobe e desce (emoção barata). Sua testa insistia em reclamar, formigando entre ódio e prazer. A adrenalina só veio quanto quase bateu as botas... Na esquina a placa dizia: Comida por quilo (refeição barata). Nem reparou. Sua cabeça estava à milhas de distância (clichê barato).
Desceu do carro apressado, visualizando o rato escondido dentro da sua toca. Um táxi o seguia de longe. Nem reparou. Não era a primeira vez que isso acontecia. O zunido no ouvido avisa da chegada de energias ocultas. não era a primeira. nem reparou.
Hoje não quero saber de nada. vou sair à noite. me debruçar sobre arvores de vidro. galhos afiados apontados para cima. Pelo menos tinha algo para ajuda-lo esquecer. amnésia induzida. lembranças retorcidas no calor do asfalto.
A força de sua mandíbula abria portas & As janelas fingiam que respeitavam sua arrogância. Quase-Excelência. Último andar. Desceu do elevador cumprimentando os funcionários. Não olhava nos olhos/ olhava pra baixo. massa cinzenta reduzida à fumaça opaca, reflexão estúpida, blankspace/backspace. As pessoas admiravam seu dinheiro. Quem não iria querer um pedaço?
Entra na sala GRANDE: quadros, couro, bronze, líquido...
Liga a tela: - Hoje temos a presença do ilustre pianista Alexis (troca) ... a bolsa de valores abriu o dia em ligeira alta impulsionada pela taxa de juros e mostra a confiança do mercado...(troca) – Nosso próximo convidado é um artista talentoso e um ser humano incrível...(troca)
Remexendo as gavetas do escritório, cavando por entre dúzias de flores perdidas. Uma imagem, duas imagens.
Porquesquecemos? Se lembrássemos de tudo nosso cérebro entraria em colapso nervoso. Esquecer é natural e saudável(troca) Achei! o canhoto, consumidor lesado. fila de banco. não espera sentado. 30 minutos. no máximo. preciso pensar sobre esse caso. (troca). Levanta rapidamente. olhar pela janela: horizonte inerte. tédio latente. olhar para baixo. sem cerimônia/sem amônia. rinocerontes, moscas voando coladas ao chão. Maritacas não se misturam facilmente ao oceano salgado. Daqui de cima as coisas parecem mais bonitas do que realmente são. Quanto mais perto você chega, mais feia fica a coisa. é a lei da vida. não me pergunte porque. mais interessado na escrita dos limites do que nos limites da escrita.
- hora do almoço. O estomago chorando a fome pela boca. Carvão moído & Petróleo pra rebater. (troca) (pela tela): - Bárbara, me liga com o Ligeirinho. japonês ou chinês? – Escolhe pra mim alguns pedaços de sushi levemente ressecados (troca)...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

"Não há nada a ser negado, nada
A ser afirmado ou apreendido; pois Aquilo
não pode ser concebido.
Os iludidos são agrilhoados pelas fragmentações do intelecto;
A espontaniedade permanece pura e indivisa".


Sarahapâda, monge budista do século VIII.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Visite Port Watson!

Como eu ando meio perdido, falando sobre ilhas fantásticas e universos paralelos, revolvi escancarar de vez. Hoje vou falar sobre um dos mais guardados e enigmáticos mistérios da ficção científica, o texto “Visit Port Watson”. Aparentemente, é uma narrativa banal, mas sobre o recife de corais encontramos uma visão radical de mundo. Sua autoria é desconhecida e investigada, só que descobrir quem escreveu esse pequeno “guia turístico” pouco importa. Assim como a maioria das pessoas, eu também quis acreditar...
A utopia (autônoma) da ilha de Sonrorol foi supostamente publicada pela primeira vez na edição única do microzine Libertarian Horizons: A journal for the Free Traveler (Horizontes Libertários: Um Diário para o Viajante Livre). O texto ganhou popularidade na década de 80 ao participar da antologia de contos e ilustrações Semiotext[e], publicada no Brasil com o nome de Futuro Proibido (Editora Conrad).
A resolução do enigma aconteceu aos poucos, mas a verdade foi revelada. O ensolarado Estado de Sonsorol, realmente existe e é reconhecido como nação independente. Atravessamos a última fronteira.
"E coragem para jamais submeter-se ou ceder: e o que mais não poderá ser vencido?"

JOHN MILTON, Paradise Lost

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Land of the Lost


Lembra de uma série (trash!) que passava na Globo chamada O Elo Perdido? Era a história de uma família perdida numa ilha infestada por dinos e seres reptilianos. Pois então, a série vai virar filme com Will Ferrell como protagonista. Parece que os efeitos especiais serão bem mais modernos, o que é uma pena. Mas o style continua o mesmo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Colisão

Sede eterna:
- repousaste sobre a agulha envenenada do desejo
magnetizado.

Impacto espumante & vapor fervente!
Endorfina escaldada por rasteiras
anteriores.

Asteróide rosnando
inerte em direção ao silêncio amortecido.
Mordida de vespa na pele metálica!

Construímos sua fortaleza sem o pé de apoio:
- suspensa por definitivas linhas decoradas
(e imaginadas).

Nosso estranho entourage:
- Alguns poucos repassam seus textos,
ensaiados sob à fraca luz de uma bateria renovável.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Nothing takes the past away like the future"

MADONNA, Nothing Really Matters

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O TAO DO RAP

Quando foi anunciado o fim da parceria entre Black Alien & Speed a galera estranhou. Afinal, depois de anos ralando no restrito circuito do rap brasileiro (e mesmo sem lançar um único disco) a dupla finalmente havia emplacado o hit “Quem Que Cagüetou?”(ou “Follow Me”, como ficou conhecida na Europa, onde a música realmente estourou). Naquele momento estavam no auge. Tanto criativamente quanto em relação à popularidade (com a internet ajudando bastante na divulgação do som). A sinergia dos MC’s parecia coisa doutro mundo, tipo Yin e Yang. Uma prova disso está em Expresso (2001), primeiro vôo solo de Speed, lançado algum tempo depois da separação. Mesmo sem divulgação na grande mídia, o álbum causou impacto em alguns desbravadores. A última faixa (a profética “O Mundo Vai Acabar”), vinha com participação do próprio ET Preto, e deixava na boca um gostinho de quero mais. O tempo passou e Speed desapareceu do mapa. No ano do macaco, Black Alien concebeu o aguardado Babylon By Gus vol 1 (2004). A espera foi recompensada. Reconhecimento tardio para uma das figuras mais representativas do cenário. A terra circulou o sol outras vezes quando, no ano passado, Speed ressurge no disco do Maquinado, na pesada “Tá Tranqüilo”. Mas não era fogo de palha. Agora, o próprio disponibiliza no site Palco MP3 suas novas músicas. Destaque para os clássicos instantâneos “Raios e Trovões”, “Posso Voar” e “Vem pra cá”. A levada ragga-killa-rude-punk permanece intacta... E dizem por aqui que Black Alien raspou a cabeça e até dezembro lança o volume 2. Tomara!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

E se Orwell tivesse um blog?

Eu achei essa idéia muito boa. O diário do escritor George Orwell (1984 e Animal Farm), está sendo publicado em blog exatamente 70 anos depois. O objetivo é atualiza-lo nas mesmas datas que foram originalmente anotados. Começou no último dia 9 de agosto (de 1938), e deve estender-se por pelo menos três anos. No “momento” o autor encontra-se no Marrocos, recuperando-se de um problema de saúde. Mas você pode aguardar grandes emoções (incluindo aí relatos de sua luta durante a Guerra Civil Espanhola). Gostou? Passa lá.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

*8 things to do...(meme)

Depois da convocação geral feita pelo homem mais procurado da face da terra (Capitão Caverna), eis a minha listinha de coisas pra se fazer antes de encarnar. É rápido e indolor.

1-Escrever um livro (planos futuros, à distância da meia idade, quem sabe sobre geometria fractal).
2-Gravar um disco (isso eu já fiz, tô no lucro. Quem sabe um solo? Agora só com mantras).
3-Pintar um quadro (daqueles quadriculados, tipicamente... concretista?).
4-Produzir uma história em quadrinhos (bem difícil esse, mas eu já fiz uma participação com uns irmãos aí).
5-Dirigir um filme (mais fácil eu atuar no papel de vilão. Enquadro, só aqui no blog).
6-Criar um blog (com um lay-out legal, diariamente atualizado e cheio de links interessantes... nada parecido com esse).
7-Plantar uma árvore (tipo uma mangueira, numa casa na praia, e atingir a iluminação embaixo dela).
8-Fazer um filho (se depender do pai, vai ser um capetinha).

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Um conto para Gotham

Bruce saiu cedo para trabalhar na manhã gelada daquela segunda-feira, típica de Gotham. Memórias da noite anterior ainda ressoavam dentro da máscara suja e quente. Quem é o homem por trás da máscara? Nem ele sabe. Ninguém sabe. Ah, e antes que ele se esqueça: Foda –se o aguardado Leão da Maré e o baixinho que eu não consigo lembrar o nome. Não importa. Nada é verdadeiro. E nem tudo é permitido. Maldito capanga! Assim, ele só conseguia pensar no tom vermelho plástico do céu. Encontro maligno. As brincadeiras e ameaças de morte. O cheiro de fogo e trapaça. O olhar gástrico do vilão causando atrito no ar pressurizado. Esporádico sorriso que por pouco não riscou o vidro da janela do retrato 3x4. Pra maioria das pessoas é difícil sair da cama de manhã? Outras conseguem abrir os olhos e no outro dia nem lembram de ligar a televisão. Visão de raio-X é coisa dos quadrinhos. A vida real é diferente. Uma vez acordada, a massa esculpida em pedra e sabão sobrevive mais um dia sem eclipse. Cada um no seu quadrado sintonizando o crime da hora. Ficção barata poderia ser de graça. Pesquei um porco-espinho com asas...

terça-feira, 29 de julho de 2008

RATATOUILLE

Mukeka Di Rato, a melhor e mais tosca banda do ensurdecedor cenário HC sujo e podre do nosso Brasil varonil, disponibilizou dia desses quase toda sua discografia no site Trama Virtual. Ficou de fora só o último disco, Carne, lançado ano passado pela Deck. De resto, tem todos. Os quatro álbuns da carreira: Pasqualim na Terra do Xupa Kabra, Gaiola, Acabar Com Você e Máquina de Fazer. Além dos splits Vivisick e Burzum Marley(EP). Vale destacar músicas clássicas, como Mék Câncer Feliz, Mickey, Viva a Televisão e Moldar. À disposição dos admiradores do som cuspido pelos alto-falantes, esquartejado pelas guitarras e pisoteado pela bateria.
{ }
Criada nas longínquas areias das praias de Vila Velha, ao lado da capital Vitória, a banda me foi apresentada por um pequeno/grande/amigo/roedor conterrâneo dos caros. Valeu Gui! O gosto pela Mukeka é sua culpa.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Salto no vácuo com joelhada!


O oba-oba em torno do sambista(?) Curumin não vem de ontem. Baterista paulistano (de descendência nipônica), já havia tocado para artistas consagrados quando chamou a atenção de parte do grande público nos idos de 2004, com seu debut Achados e Perdidos. Desde então, uma sombra cult insiste em pairar sobre o músico. A expectativa sobre o segundo disco era grande quando Curumin resolveu disponibilizar as novas faixas em sua página no myspace. Tiro certeiro. Durante o show de lançamento de Japan Pop Show (no começo do mês passado na choperia do Sesc Pompéia) o público que lotou a casa cantava empolgada acompanhando grande parte das músicas. Tudo em sincronia com um álbum que nem deve chegar às lojas brasileiras (somente nos Estados Unidos e Japão), mas que pode ser adquirido nos shows pelo valor simbólico de três cervejas.

Japan Pop Show é coeso, seguro e sem medo de tomar partido. Consegue transportar parte do inconsciente de referências do músico para uma plataforma abrangente e assimilável. Como diz uma de suas letras: “Compacto/Sossegado/Compacto/No meu canto, no meu lado”. É compacto e recheado de possíveis hits. Quem sabe, se tocasse na rádio? Ah, mas deixa pra lá. No ano do centenário da imigração essa é a maior homenagem que um brasileiro poderia ter feito à terra do sol nascente. Ops, eu falei isso?

sexta-feira, 11 de julho de 2008

segunda-feira, 30 de junho de 2008

What a wonderful (new) world

Wall-E, a nova animação da parceria Pixar/Disney, é uma pequena obra-prima da ficção científica. Logo no início, temos a estranha sensação que alguma coisa muito séria aconteceu, e os resultados foram catastróficos. (Nesse cenário, a própria humanidade perdeu o controle, e a quantidade de lixo acabou tornando a Terra um lugar impróprio para a vida biológica. A população do planeta embarcou numa nave espacial, que fica à deriva, esperando uma solução para o problema). Aos poucos, o sol nasce e as ruas surgem desertas. A idéia (plausível) da asfixia pelo lixo é representada pela paisagem árida e apocalíptica. O único sinal de vida é emanado por um pequeno robô, ziguezagueando pelas montanhas de sujeira. O último lixeiro robótico. E é justamente nesse simpático personagem que o enredo concentra sua força (e guarda seus maiores trunfos). O protagonista, de olhar triste e solitário, apresenta-se como uma espécie de Charles Chaplin futurista – visão esta reafirmada pela paixão platônica que “Wally” nutri pela personagem Eva, típica do cinema mudo.
O oitavo longa da Pixar é, provavelmente, o mais ousado de todos. E também o menos infantil. Afinal, a história é um tanto espinhosa, com poucos diálogos e muita expressão facial (de um sujeito que não tem uma face propriamente dita. É como tirar leite de pedra, mas eventualmente eles acabam conseguindo). As críticas a sociedade atual pipocam em diferentes momentos. Pra ajudar na verossimilhança o estúdio contratou como consultor visual, Roger Deakins, premiado diretor de fotografia (Onde os Fracos Não Têm Vez). Outro destaque é a “voz” do protagonista, criada pela lenda do som Ben Burtt (da saga Stars Wars). As óbvias referências ao universo sci fi são inúmeras e, por vezes, hilárias. Nem mesmo o clichê do final feliz tira o fôlego e a relevância da animação.
***
Quem for ao cinema ainda será agraciado com a exibição do curta-metragem Presto, sobre um mágico, sua cartola e um coelho vingativo. Pra chorar de rir.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

100 fILMES dos últimos 50 anos

Antes de tudo, considerações. Eu prometi essa lista e acabei com uma dor de cabeça antes do fim da semana. Por onde começar? Quais filmes escolher? Em que ordem? Pronto: eu falo da metade do século passado até atualmente (eu sei que eu prometi os melhores filmes da história, mas aí já fica meio difícil).
Também tomei a decisão de não adotar critérios objetivos, invariavelmente, apelando para os subjetivos. Repito: as escolhas são puramente pessoais. Por isso mesmo, alguns clássicos passaram batidos. *(Não ia caber tudo, 100 é muito pouco). A ordem deve ser considerada alheatória, e não vou enumerar os longas em ordem de qualidade (isso não se faz). As trilogias Guerra nas Estrelas, Indiana Jones, De Volta para o Futuro e Senhor dos Anéis foram sumariamente ignoradas (iria ocupar muito espaço). O objetivo maior foi tentar traçar um panorama de filmes essenciais, dos últimos 50 anos, que fizeram a minha cabeça. Apaga a luz e aperta o play.

Um Estranho no Ninho
Taxi Driver
O Poderoso Chefão
Laranja Mecânica
Os Bons Companheiros
Easy Rider – Sem Destino
O Iluminado
Pulp Fiction – Tempo de Violência
Apocalypse Now
O Poderoso Chefão 2
Touro Indomável
Assassinos Por Natureza
Nascido Para Matar
Blade Runner – O Caçador de Andróides
2001 – Uma Odisséia no Espaço
O Exorcista
Era Uma Vez na América
O Bebê de Rosemary
M*A*S*H
Cassino
Coração Satânico
O Selvagem da Motocicleta
Akira
eXisteZ
O Ódio
Quero ser Grande
Kill Bill v.1
Clockers – Irmãos de Sangue
ET – O Extraterrestre
Barton Fink
Chinatown
Brazil – O Filme
Dr. Fantástico
Elefante
Réquiem para um Sonho
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
A Dança dos Vampiros
O Grande Lebowski
Beleza Americana
O Vingador do Futuro
Cães de Aluguel
E aí meu irmão cadê você?
História Real
Noivo Neurórico, Noiva Nervosa
Trainspotting
Quero ser John Malkovich
A Última Tentação de Cristo
O Fantasma do Futuro (Ghost in The Shell)
O Franco-Atirador
Monty-Phyton – Em Busca do Cálice Sagrado
As Bicicletas de Belleville
Donnie Darko
O Resgate do Soldado Ryan
Faça a Coisa Certa
O Exterminador do Futuro 2
Cidade de Deus
O Feitiço do Tempo
Asas do Desejo
Veludo Azul
O Estranho Mundo de Jack
Ran
Tiros em Columbine
Operação França
A Lista de Schindler
Kill Bill v.2
Um Dia de Cão
Magnólia
O Invasor
Medo e Delírio em Las Vegas
Psicose
Era Uma Vez no Oeste
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Mogli – O Menino Lobo
A Conversação
Manhattan
Alien – O 8° Passageiro
Crumb
A Viagem de Chihiro
Adaptação
Uma Cilada para Roger Rabbit
O Último Tango em Paris
Scarface
Os 12 Macacos
Edward Mãos de Tesoura
Crash – Estranhos Prazeres
O Homem-Elefante
Procurando Nemo
A Mosca
Parque dos Dinossauros
O Informante
A Noite dos Mortos-Vivos
Persépolis
O Rei da Comédia
Ed Wood
Pi
Lavoura Arcaica
Os Pássaros
Inteligência Artificial
A Doce Vida
O Pianista

terça-feira, 24 de junho de 2008

INNA FREVOWISE STYLE

Estava com esse post pronto na semana retrasada, mas por respeito aos meus amigos mosqueteiros revolvi segurar um pouco. É porque eu não gosto de provocação e o tema foi pura coincidência. Mesmo (nada pessoal). Passado o baque, segue o som:
Frevo do Mundo é uma coletânea em comemoração ao centenário do ritmo pernambucano, festejado no final de 2007. Aos puristas, o aviso: - não espere o frevo vestido com sua roupa tradicional e guarda-chuva na mão. O disco traz releituras de clássicos do gênero por artistas modernos a convite da gravadora Candeeiro Records (idealizadora do projeto). Participam, entre outros: Mundo Livre S.A., Ortinho, Cordel do Fogo Encantado, Eddie, China, Siba, Orquestra Imperial, Erasto Vasconcelos, e os representantes da velha escola Edu Lobo e João Donato. Os arranjos dos metais ficaram a cargo dos maestros Duda, Admir Arraujo e Spok. Esse inusitado presente de aniversário acaba transportando o intricado ritmo regional direto pro século XXI. E sem aquele enjôo típico das viagens no tempo-espaço. Capiba & Cia agradecem... A capa é mais uma obra do onipresente casal Arteria.
PS: Ainda essa semana - atendendo aos pedidos dos fiéis leitores - os 100 melhores filmes da história (segundo a Besta Quadrada). Até lá.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Hollywood Forever

O American Film Institute, convidou cerca de 1.500 críticos de cinema, artistas e historiadores para produzirem uma lista com os melhores filmes da história de Hollywood. Um panorama com creme de la cream do cinema americano. Claro que ausências são sentidas e clássicos ficaram de fora. Ainda faltaram as presenças de gêneros populares como comédias, filmes de guerra, terror e documentários. Mas mesmo com minhas ressalvas, eu adoro essas listas de melhores. Vamos aos top 10 das categorias:

ANIMAÇÃO: Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs), 1937 - 2° Pinocchio, 1940 - 3° Bambi, 1942 - 4° O Rei Leão (The Lion King), 1994 - 5° Fantasia, 1940 - 6° Toy Story, 1995 - 7° A Bela e a Fera (The Beauty and the Beast), 1991 - 8° Shrek, 2001 - 9° Cinderella, 1950 - 10° Procurando Nemo (Finding Nemo), 2003

FANTASIA: O Mágico de Oz (The Wizard of Oz), 1939 - 2° O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring), 2001 - 3° A Felicidade não se Compra (It's a Wonderful Life), 1946 - 4° King Kong, 1933 - 5° Milagre na Rua 34 (Miracle on 34th Street), 1947 - 6° O Campo dos Sonhos (Field of Dreams), 1989 - 7° Meu Amigo Harvey (Harvey), 1950 - 8° Feitiço do Tempo (Groundhog Day), 1993 - 9° The Thief of Bagdad, 1924 - 10° Quero Ser Grande (Big), 1988

GÂNGSTER: O Poderoso Chefão (The Godfather), 1972 - 2° Os Bons Companheiros (Goodfellas), 1990 - 3° O Poderoso Chefão 2 (The Godfather Part II), 1974 - 4° Fúria Sanguinária (White Heat), 1949 - 5° Uma Rajada de Balas (Bonnie and Clyde), 1967 - 6° Scarface: A Vergonha de uma Nação (Scarface: The Shame of a Nation), 1932 - 7° Pulp Fiction, 1994 - 8° Inimigo Público (The Public Enemy), 1931 - 9° Alma no Lodo (Little Caesar), 1930 - 10° Scarface, 1983

FICÇÃO CIENTÍFICA:2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey), 1968 - 2° Guerra nas Estrelas (Star Wars: Episode IV - A New Hope), 1977 - 3° E.T. - O Extraterrestre (E.T. - The Extra Terrestrial), 1982 - 4° Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), 1971 - 5° O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still), 1951 - 6° Blade Runner, 1982 - 7° Alien, 1979 - 8° O Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2: Judgement Day), 1991 - 9° Vampiros de Almas (Invasion of the Body Snatchers), 1956 - 10° De Volta para o Futuro (Back to the Future), 1985

FAROESTE: Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - 2° Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - 3° Os Brutos também Amam (Shane), 1953 - 4° Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - 5° Rio Vermelho (Red River), 1948 - 6° Meu Ódio Será sua Herança (The Wild Bunch), 1969 - 7° Butch Cassidy (Butch Cassidy and The Sundance Kid), 1969 - 8° Jogos e Trapaças - Quando os Homens são Homens (McCabe & Mrs. Miller), 1971 - 9° No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - 10° Dívida de Sangue (Cat Ballou), 1965

ESPORTE: Touro Indomável (Raging Bull), 1980 - 2° Rocky, 1976 - 3° Ídolo, Amante e Herói (The Pride of the Yankees), 1942 - 4° Momentos Decisivos (Hoosiers), 1986 - 5° Sorte no Amor (Bull Durham), 1988 - 6° Desafio à Corrupção (The Hustler), 1961 - 7° Clube dos Pilantras (Caddyshack), 1980 - 8° Correndo pela Vitória (Breaking Away), 1979 - 9° A Mocidade É Assim Mesmo (National Velvet), 1944 - 10° Jerry Maguire, 1996

MISTÉRIO: 1° Um Corpo que Cai (Vertigo), 1958 - 2° Chinatown, 1974 - 3° Janela Indiscreta (Rear Window), 1954 - 4° Laura, 1944 - 5° O Terceiro Homem (The Third Man), 1949 - 6° O Falcão Maltês (The Maltese Falcon), 1941 - 7° Intriga Internacional (North by Northwest), 1959 - 8° Veludo Azul (Blue Velvet), 1986 - 9° Disque M para Matar (Dial M for Murder), 1954 - 10° Os Suspeitos (The Usual Suspects), 1995

ÉPICOS:Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia), 1962 - 2° Ben-Hur, 1959 - 3° A Lista de Schindler (Schindler's List), 1993 - 4° ...E o Vento Levou (Gone with the Wind), 1939 - 5° Spartacus, 1960 - 6° Titanic, 1997 - 7° Nada de novo no Front (All Quiet on the Western Front), 1930 - 8° O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998) - 9° Reds, 1981 - 10° Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments), 1956

terça-feira, 17 de junho de 2008

notes from a nerd’s front...(part 2)

Recentemente foram lançados no Brasil (de praxe, direto pra DVD) dois animês imperdíveis. O primeiro é Tekkonkinkreet, adaptação do popular (no Japão) mangá Preto & Branco, de Taiyo Matsumoto. O desenho narra a história de dois garotos de rua numa cidade violenta e poluída. É impressionante o trabalho do diretor americano Michael Arias, e sua mescla de animação tradicional (2-D) com cenários digitais (3-D). Ainda assim a versão animada não consegue superar a obra em quadrinhos. Mas chega perto, ficou faltando a expressividade do traço do desenhista original.
O outro animê é Paprika (imagem acima), dirigido pelo japonês Satoshi Kon, o mesmo de Tokyo Godfathers (que também saiu no Brasil). O enredo é uma insólita mistura entre A Hora do Pesadelo e Vingador do Futuro. Isso mesmo, uma ficção científica sobre a poderosa força dos sonhos. Interessante não? Pois é, o filme é insano! Corre atrás.

terça-feira, 3 de junho de 2008

The Death of the Cool

Ainda meio desconhecido no Brasil, o rapper americano Lupe Fiasco é um desses artistas que se equilibram na corda bamba entre o underground e o mainstream. Seu segundo disco, “The Cool”, era sua prova de fogo – e ele acerta no alvo. Em metade do álbum as canções trazem o apelo pop típico das rádios brasileiras com programação baseada na chamada “black music”. Mas, calma! O artista, que poderia se tornar mais um 50 Cent da vida, foge do óbvio e bebe de fontes mais puras. As músicas mais... (digamos...) “comerciais”, são intercaladas por outras mais... cabeçudas (tem até a participação do guru eletrônico UNKLE). A maioria das faixas possui bases elaboradas e criativas, fazendo essas distinções de gênero quase obsoletas. As letras do rapper também abordam temas não convencionais dentro do estilo, ou seja, nada de carrões, mulheres nuas e cordões de ouro. No lugar entram skate, religião, um pouco de política e videogames...“I like street fighter two/ I just really hate Zangeif/ Only Ken and Ryu/ I find it hard to beat Blanka/ Keep a wee ninja hanging and the UNKLE album banging”, ele canta na música Gold Watch. Em alguns momentos lembra o De La Soul. Mas a cartilha de Lupe é outra, a mesma de Kanye West. Não à toa os dois estão juntos na turnê Glow in the Dark, que ainda tem a mega Rihanna e o projeto N.E.R.D. Agora, a única coisa que eu posso dizer é: prepare-se, mesmo sem se dar conta, você ainda vai ouvir o som desse cara.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Quem tem bit tem tudo

Uma coletânea com os maiores sucessos da carreira sempre cheira oportunismo barato. Cifrões e cifrões dentro das carteiras. Mas esse não é o caso do lançamento de Combat Samba – E se a gente seqüestrasse o trêm das 11?, da banda pernambucana Mundo Livre S.A.
Espécie de the best of, o disco traz músicas de todas as fases dos mais de vinte anos de estrada do grupo, selecionadas pelo produtor musical e jurado de TV, Carlos Eduardo Miranda, com comentários do vocalista e compositor verborrágico, Fred 04. A compilação tenta fazer a aproximação das antigas canções com os fãs mais jovens, que não tinham idade para entender as letras na época de seus lançamentos originais e pegaram o bonde andando.
O Mundo Livre S.A. é pedra fundamental no manguebeat, possui uma música original e transcendental, muito além dos rótulos jornalísticos. Ainda assim, nunca tiveram um hit, um sucesso popular radiofônico. Nem o reconhecimento devido. Talvez seja a banda mais injustiçada da história da música brasileira. Incensado pela crítica e rejeitado pela massa.
Combat Samba chega às lojas tentando corrigir esse erro histórico, enquanto que indiretamente eleva ainda mais o patamar de importância do grupo. As músicas envelheceram bem nesses anos. Destaque para os clássicos: Livre Iniciativa, Salto de Aratú, Terra Escura (do primeiro disco, Samba Esquema Noise) e Seu Suor é o Melhor de Você (do segundo, Guentando a Ôia). Se você nunca escutou, não sabe o que está perdendo. E pra não falar que tudo são flores, algumas boas faixas ficaram de fora, como Free World, Quarta Parede e Por Pouco (quem sabe num álbum duplo?)
O primoroso projeto gráfico é assinado por Jorge Du Peixe e Valentina Trajano (Arteria). Ah, e nem preciso dizer de onde 04 tirou a inspiração do título, né?

segunda-feira, 19 de maio de 2008

E estamos conversados

Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante
que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando,
que eles querem mesmo é reclamar,
como uma risada na minha orelha, ou como uma abelha, ou qualquer outra coisa pentelha,
sobre as vidas alheias, ou como elas são feias,
ou como estão cheias de tanto esconderem segredos
que todo mundo já sabe, ou se não sabe desconfia.
Eu não vou mais ficar ouvindo distraído eles falarem deles e do que eles fariam se fossem com eles
e do que eles não fazem de jeito nenhum, como se interessasse a qualquer um.
Eles são: as pessoas, todas as pessoas, fora os mudos.
Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois,
falem longe da minha janela, por favor, se for para falar do meu amor.
Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador.
Campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais, pelo menos por enquanto.
Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico.
E estamos conversados.

Arnaldo Antunes

ps: Besta em crise

segunda-feira, 28 de abril de 2008

notes from a nerd’s front...(part 1)

E mais um mangá/animê de sucesso será adaptado para as telas dos cinemas com atores reais (live-action). Agora é a vez de Ghost in the Shell. Pra quem não conhece, o mangá criado por Masamume Shirow ficou famoso quando os irmãos Wachowski se “inspiraram” no enredo (e na estética) da versão animê para conceberem Matrix. A história é uma mistura de Blade Runner com filosofia existencialista. Os direitos foram comprados pela DreamWorks e, segundo consta, o filme será desenvolvido com tecnologia de projeção em 3-D (!). A franquia fez sucesso e ganhou duas seqüências animadas (além de uma série televisiva). GitS2: Innocence (2004) foi segunda animação a ser indicada à Palma d’Ouro (a primeira havia sido Peter Pan, em 1957). No Brasil, o primeiro filme foi lançado com o nome nada sugestivo de Fantasma do Futuro. Procura na locadora.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O MC DO AMOR

Com dois EPs lançados quase simultaneamente, o rapper De Leve pode ser considerado um workaholic no meio do rap. Depois do excelente “Manifesto ½ 171” ele volta a cena, agora cercando por todos os lados. Primeiro veio o EP solo de cinco músicas intitulado De Love. Depois lançou seu projeto paralelo – junto com o Flu (ex-De Falla) – a Banda Leme. Ambos os discos são curtinhos e saíram somente em formato digital. Dá pra baixar no Trama Virtual, que você não paga nada e eles recebem um trocado. Segue as resenhas, faixa a faixa.
**
De Love:
Sempre a caminhar – Música esperta. Tem um discurso diferente do habitual, com uma positividade que lembra os melhores momentos do B. Negão. Antidepressivo nos ouvidos.
O que que você conta – Com synth de teclado repetitivo e refrão lá, lá, lá, essa é calminha, calminha (tem até um violino manso). Pra relaxar no domingo de manhã.
Pra ser feliz – Com participação do cantor Totonho, a música é insana. Mostra como o MC fica a vontade em qualquer situação.
O que que nego quer – Funk/Pop sem vergonha de ser feliz. Ouviu mais de uma vez e fudeu, o refrão fica na cabeça pra sempre. Um dos destaques do disco.
Quero-te bem – Lembra a fase antiga do rapper, dos tempos do “Introduzindo”. Base jazz com vocal afinado. O papo aqui é romantismo. Quem disse que caramujo não tem coração?
**
Banda Leme:
Nadadora – Algumas meninas podem ficar ofendidas, mas essa música (pop até o osso) fisga pelo cerne. Mistura de Latino com Barry White. O resultado é surpreendente. Cuidado! Outro refrão chiclete.
Amor 100 remédio – Mais uma prova que De Leve é um dos MC’s mais criativos da atualidade. A rima quebra tudo sem cair no convencional. A base também se destaca pela originalidade.
Não te dou – Começa meio ragga, com vocal sincopado. Depois desbanca pro eletro/ska, se é que isso existe. Outro refrão absurdo de bom.
Vingativo –Excursão na mistura de rap com samba. Funciona bem por causa do surdo onipresente.
Com bola e tudo – Diferente até para os padrões da banda. A letra sobre futebol deixa espaço para o duplo sentido freqüente. O baixão é nervo!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Bebê Frankenstein

André Abujamra está nu, coberto de sangue e chorando por peito. A imagem aparece na capa de seu segundo trabalho solo, Retransformafrikando, lançado no final do ano passado. Na verdade, Abujamra renasceu. Depois de uma operação para redução de estomago, emagreceu 70 quilos. A mudança deixou o músico mais fluído, direto e urgente. Eu ia falar leve, mas seria redundante... O disco funciona quase como síntese de sua carreira, mas consegue ir além. As características de seus trabalhos anteriores (nas bandas Mulheres Negras e Karnak) estão todas presentes: os instrumentos exóticos, as mudanças de ritmos, a complexidade das composições. E como não poderia deixar de ser, as influências são as mais diversas possíveis. Flerta com rock, reggae, orquestra, samba, bossa, eletrônica, rap e música étnica. Mas ele só flerta, não namora ninguém. Prefere formar uma criatura mutante, sem cara nem rótulo. O passo além fica por conta da acessibilidade das músicas, muito mais próximas do ouvinte besta. As participações especiais são inúmeras, cobrindo quase todo o abecedário (de Andreas Kisser a Xis). Suas novas letras falam sobre o mundo de hoje sob uma perspectiva quase infantil, de uma criança que está vendo o planeta pela primeira vez. A criança geralmente está mais aberta a realidade que o adulto. E as palavras ganham importância tanto pela sonoridade quanto pelo significado. Uma mistura de poesia concreta, cantiga de ninar, provérbios disléxicos e divagações herméticas... Na verdade, a mudança do meu xará é muito mais externa do que interna. Como ele mesmo diz na música que dá nome ao disco “Por isso eu volto/ me transformo/ sem me transformar/ a essência ficou no lugar”. Assim eu proponho um brinde à chegada desse novo guri renascido. Vamos fumar um charuto com o Abu pai e divagar sobre o promissor futuro do rebento.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

É o amoooor...

Comentar o trabalho de algum amigo é sempre difícil. A suposta imparcialidade crítica geralmente deixa ser contaminada pelo apreço ao individuo. O carinho pela pessoa amiga cega os defeitos visíveis. A partir daí é ladeira abaixo e o foda-se ligado (né não, “mídia especializada”?). Por esse motivo, jornalisticamente falando, eu não poderia escrever sobre Arrufos, a mais nova peça do Grupo XIX de Teatro. É que eu tenho uma grande amiga no elenco, então não poderia. Mesmo assim, vou ligar o f..., ops desencana... Falando sério, só quem já assistiu aos espetáculos dessa turma da Vila Maria Zélia sabe: o trabalho deles é acima de qualquer suspeita. Eu nem preciso medir as palavras porque isso seria uma injustiça. Hysteria foi genial e inovador. Hygiene instigante e lírico. Em Arrufos, o grupo parece estar no auge da inventividade e exuberância. Pra quem não conhece, todos esses espetáculos são interativos, dependendo muito da resposta da platéia para conseguir os resultados esperados (e também os inesperados). Arrufos disserta sobre o amor em diferentes perspectivas históricas. A ligação entre as narrativas é uma pequena linha dourada, brilhante na escuridão. Uma teia em espiral que compõem divagações precisas sobre esse tema tão presente (ainda ausente) na vida de todos. Tudo bem, eu posso ser suspeito pra falar. Mas olha, se você ainda tiver alguma dúvida, tenta conferir as últimas apresentações nos próximos finais de semana (se já não estiverem lotadas). A peça, em cartaz desde o final de fevereiro, fica até o dia 27 de abril (com possível prorrogação por mais um mês). Ás sextas, sábados e domingos, lá naquela vila irada da zona leste, construída no começo do século XX (nem parece Sampa). O passeio ideal para levar o seu bem-amado.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

WHO'S BAD?!

Chegamos! Dez minutos na porta, tomando umas nem tão geladas. Mas tá valendo, nada iria estragar a noite. Afinal, era o Bad Brains, em apresentação única e inédita em São Paulo. Ou seja, pra marcar com ferro, fogo e fumaça. “Tu chegou pra marcar, tu chegou pra festa”. Os caras da banda estavam logo ali em cima, olhando o movimento e se concentrando com um cigarrinho que passarinho não fuma. O público era uma mistura de jovencitos com uma galera das antigas. Muita gente parece parada no tempo, perdida em algum lugar entre os anos 80 e 90... Preciso ir ao banheiro e saio na frente – “encontro vocês lá dentro”. Entro e sinto o clima. Pelas caixas, só clássicos do HC. Depois do alívio e da fila pra cerva, retomo o contado com a base. Mais um tempinho trocando idéia e nesse meio tempo vemos figuras famosas. Primeiro foi o Califórnia, com aquela cara de mal encarado. Ontem ele tava de bom humor (meio raro). A conversa flui sobre bandas. O Cali é old school, sabe das coisas. De uma hora pra outra ele some, sem deixar vestígios. Depois passam na nossa frente JG (João Gordo) e PG (Pitty Grávida). E olha que eu não reparo muito em celebridades. Mas não tem jeito, onde eles passam as pessoas olham e apontam (eu não, eu só comento com o amigo do lado. Sua mão não lhe ensinou que é feio apontar?). (Ainda segundo fontes confiáveis, Jão e Boca também estavam presentes, saídos diretamente de um ensaio do Ratos). A tensão aumenta. Tá na hora, tá na hora...
Sailing the Seas of Cheese
O show começa! Eu quero ir lá pra frente e esse é o melhor momento para se fazer isso. Estão todos pulando empolgados e você vai criando espaço na marra. Ninguém reclama porque sabem como essas coisas funcionam. Dr. Know nem completou seu segundo acorde e a pista já parece uma praça de guerra. “Give Thanks and Praises to the Looooooord...” A roda é grande e como uma maré enfurecida me leva pra pertinho do palco. De tão perto, dava pra roubar o microfone do vocalista substituto do H.R., Israel Joseph I, que mandou muito e até trocou umas palavras com a platéia (num português arcaico)... O local parece tese de mestrado do curso antropologia da PUC: carecas, rastas, punks e hardcores se trombam na santa paz do senhor. Todos seguem um código velado de bom comportamento. Nada de soco acima do pescoço! O empurra-empurra continua até nas músicas reggae, claro que em menor escala. O único princípio de treta veio quando um sem noção dá um mosh caindo de pé, pisando na cabeça de um maluco grande... Irmão, o mosh (ou stage dive) é uma arte. Você precisa escolher o melhor lugar para pular. Precisa pular de uma maneira própria, meio deitada, pra não machucar os outros (e você próprio). Mas vale a pena passar pelo curso. Aquele meio segundo suspenso no ar, voando, parece uma vida. Sensação de liberdade pura... Mas voltando a treta, graças a Jah não aconteceu nada, a noite era de confraternização. E ficou por isso mesmo... Depois e perder o isqueiro e conseguir acha-lo sem querer no chão de sabão (bizarro), voltamos pro bar. Longe do tumulto, pegamos as últimas brejas, repondo as energias. Mais três músicas e o show acaba. Uma hora e meia de adrenalina. Pra entrar pra história. Voltamos pra casa com a sensação de dever cumprido.

PS: Nada do Caio. Temo que tenha sido recrutado pelo grupo dos carecas. Tentaram comigo (mas eu já tenho religião).

terça-feira, 8 de abril de 2008

América Selvagem

Eu não costumo falar de política nesse espaço. Ás vezes entra o assunto religião, mas de forma bem superficial. Light até. Cômica, diriam alguns... Apesar de meu profundo interesse, tais assuntos não são minha “especialidade”. Então, prefiro passar longe... No entanto, a notícia do desmembramento de um rancho de fundamentalistas mórmons no Texas foi a deixa para o post... No último final de semana a polícia texana, graças a denuncia de uma adolescente que sofria abusos do marido (34 anos mais velho), invadiu um rancho no interior do estado onde viviam isolados do mundo integrantes da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, seita polígama dissidente da Igreja Mórmon. A polícia retirou do local cerca de 400 crianças e 130 mulheres. Para se ter uma vaga idéia, os seguidores da Igreja pregam que o homem deve ter no mínimo três mulheres (com base em interpretações da própria Bíblia). Muitas meninas são forçadas ao matrimônio por meio de casamentos arranjados pelos pais. Algumas possuem (ou são possuídas por) maridos antes mesmo de entrarem na puberdade. A legislação americana considera a poligamia um crime grave. Relações sexuais com menores devem ser tratadas como estupro e pedofilia. Para fugir das garras da polícia, os fiéis costumam se esconder em regiões afastadas da população. Pequenos municípios de estados como o Texas, Utah e a divisa com o Canadá são os locais ideais. Se você nunca tinha ouvido falar nesses absurdos, a história da religião mórmon é extremamente bem documentada no livro Pela Bandeira do Paraíso (Companhia das Letras), escrito pelo jornalista americano Jon Krakauer. O autor parte de um crime especifico, ocorrido em 1984, para traçar um panorama da religião e seu histórico de violência. Quem sou eu para questionar a crença alheia. Cada um segue o Deus que achar melhor (eu mesmo sou devoto do polêmico Deus Quadrado). Só que nesses casos, os acusados tentam se esconder atrás da lei de liberdade religiosa para continuar cometendo crimes hediondos e doentios.
***
Depois da insistência de amigos diversos, revolvi conferir Na Natureza Selvagem (Into The Wild). O filme, dirigido por Sean Penn (que também assina o roteiro), é uma adaptação de um outro livro (homônimo) de Krakauer. A fita é deslumbre visual. Fiquei impressionado com as imagens e a fotografia. A história (real) do aventureiro solitário é empolgante e contestadora. Em alguns momentos a narrativa desacelera um pouco, o que pode cansar alguns. Nada que prejudique o resultado final. Surpresa pra mim, ainda existe vida inteligente no interior americano. Claro que não é religiosa. Os índios foram embora faz tempo.

terça-feira, 1 de abril de 2008

PARA VER E OUVIR (não necessariamente nessa ordem)...

Estréia nessa sexta-feira (4 de abril) o documentário de Martin Scorsese, Shine a Light. O filme, que traz um show mais “intimista” dos Rolling Stones, deve encher ainda mais os cofres dos vovôs. Se você não consegue esperar de tanta ansiedade, a Besta dá a letra de cinco documentários musicais (ou compilações de shows) que foram recentemente lançados no Brasil, em DVD. Sobe o som, tiozão:

Amazing Journey: The Story Of The Who (Registro definitivo da banda inglesa, cobrindo os altos e baixos da carreira. Curiosidades de bastidores é o que não falta. Tudo sem pudor ou censura. No final, os músicos sobreviventes deixam no ar a intenção de gravar coisas novas. Será que teremos outra reunião de dinossauros?).

The Ramones: It´s Alive 1974-1996 (Apresentações ao vivo em diversas partes do mundo, em fases diferentes da carreira, da maior banda punk de todos os tempos. Pena que o Brasil ficou de fora (a Argentina não). Obrigatório é pouco. Essencial).

Miles Electric: A Different Kind of Blue (Filme só sobre a fase elétrica do trompetista. No final dos anos 60, influenciado pelo rock de Hendrix, o funk do Sly Family e a contra-cultura hippie, Miles Davis decide plugar os instrumentos de sua banda para alçar vôos ainda mais altos. Contextualizando o período, entrevistas com os músicos que participaram da revolução elétrica. De bônus, a apresentação antológica (e completa) durante o Festival da Ilha de Wight... mind-blowing).

Botinada! A Origem do Punk no Brasil (Estréia do ex-VJ Gastão Moreira na direção de documentários. Misturando imagens de arquivo com entrevistas dos remanescentes da época, o filme é um excelente registro do nascimento do punk nacional. Para quem quer tentar entender o fenômeno HC no Brasil, esse é o primeiro passo. Quer dizer, o primeiro chute na cara).

Endless Harmony – The Story of The Beach Boys (A perturbadora história dos meninos da Califórnia que tiveram de virar homens de um dia para o outro. A pressão vinha de todos os lados, inclusive dos Beatles. No começo, um som despretensioso e feliz. Depois, composições intricadas e soturnas. Não é de se estranhar que eles desvirtuaram pra sempre. Surf, drogas e rock n’ roll. Não necessariamente nessa ordem).

sexta-feira, 28 de março de 2008

DOROBÔ

(sem título) - Atsuo

Pra fechar o "especial artes plásticas" aqui no blog, a minha dica para esse final de semana é a exposição Japan Pop Show, que acontece na galeria Choque Cultural até o dia 30 de abril. Embarcando na onda de comemorações do centenário da imigração japonesa, a exposição acaba por contextualizar as semelhanças e diferenças entre as culturas urbanas de Brasil e Japão. A abordagem dos 12 artistas (japoneses e nisseis brazucas) ratifica as influências mais óbvias (mangá, animês, skate, street art, pop, publicidade, etc) deixando, contudo, o devido espaço para interpretações únicas (e lúdicas). A metamorfose da cultura de massa em visões peculiares e transgressoras faz bem pra nossa alma consumista desgastada. E esse é o grande trunfo da curadoria. A pluralidade de estilos demonstra a força criativa advinda das ruas. E o diálogo cultural promove a troca universal. Com isso, sempre sai alguém ganhando. Nesse caso fomos nós. 100 anos atrás – ou agorinha mesmo.

Os artistas: Yumi (também curadora), Titi Freak (também curador), Whip, Kansuke, Taniguchi, Atsuo, JPS-Dise, Casper, Gachaco, Depaster, Spancall e Buia.

JAPAN POP SHOW (até 30 de abril)
Choque Cultural
Rua João Moura, 997
Vila Madalena/ São Paulo
Horário ?/? (pode ir a tarde, depois da Benedito)

quinta-feira, 27 de março de 2008

Mais um da série: Artistas Alteradores de Estado.


M.C. Escher (1898–1972), artista holandês dono de uma habilidade fora da lógica para conceber mosaicos e estruturas arquitetônicas fantásticas. Suas litografias e xilogravuras foram fortemente influenciadas pela arte islâmica encontrada nas mesquitas. Entre as obras famosas: o auto-retrato pela perspectiva do cristal e Relativity (1953) – ambas você já deve ter visto por aí. Não vou ficar aqui falando o quanto o cara é foda porque não precisa. Não achei o nome da obra acima. Mas coloquei assim mesmo. Se alguém souber...

terça-feira, 25 de março de 2008

Nada daquilo

Não sou aquilo.

Aquilo o quê?

Nada daquilo.

Sim, mas nada daquilo o quê?

Daquilo nada sou eu.

Aquilo não sou eu?

Também.

Não sou aquilo?

Nada é aquilo.

Eu não sou.

Tudo aquilo

Eu sou aquilo.

Aquilo o quê?

Tudo aquilo.

Sim, mas aquilo o quê?

Aquilo tudo sou eu.

Aquilo sou eu?

Também.

Eu sou aquilo?

Tudo é aquilo.

Eu sou.

segunda-feira, 24 de março de 2008

PALAVRAS DE PODER

Por meu amigo Bob Black.

Advogados? Bocas ligadas a sistemas de sustentação da vida.
Arte? Um substituto cada vez mais inadequado para o sexo.
Banco de Sangue? Existe algum outro tipo?
A “Cena”? Aprenda a ser diferente como todos os outros.
Cinismo? Há muito tempo ultrapassado pelos fatos.
Civilização? A doença de pele da biosfera.
Cristãos Renascidos? Não deveriam nem ter nascido.
A Crucificação? Foi pouco e veio tarde.
A Direita? Torta.
Doença? Algo muito perigoso: uma das principais causas da existência de médicos.
Eleições? A mongocracia em ação.
A Esquerda? Um zero à esquerda.
A Família? Abaixo a bomba familiar!
Fé? É fatal – vade-retro, Deus!
Feminismo? Igualdade com os homens: uma ambição patética.
Gays? Judeus? Elites posando de oprimidas.
Governos? Armas não matam, políticos matam.
Guerra de classes? A guerra para acabar com todas as guerras.
Gurus? Um bom mantra é difícil de achar.
Hippies? Running out of gas.
Juízes? Déspotas encarquilhados vestidos de palhaços.
Lazer? Pagar e brincar excluem-se mutuamente.
Lei? Crime sem castigo.
Liberais? Conservadores com sentimento de culpa.
Liberdade sem Libertinagem? Toda a liberdade que o dinheiro pode comprar.
Lugares Punks? Barzinhos chiques sem luxo.
Marxismo? Estágio mais elevado do capitalismo.
Masoquismo? Igual a levar serviço pra casa.
Místicos? Têm vislumbres incomunicáveis e não conseguem parar de falar deles.
Música Disco? O baralho continua.
Necrofilia? Uma doença social.
Niilistas? Indo para além do bem e do mal, pararam na metade do caminho.
Pedagogicídio? Um crime sem vítimas.
Pleno Emprego? Uma ameaça, não uma promessa.
Polícia? Terroristas com as credenciais certas.
Política? Como um brejo – tudo que é sujo acaba subindo.
Prazer? Interlúdio que acentua a dor.
Preconceito? Sociologia popular.
Professores? Reprovados.
Propriedade? É furto – e furtar é apropriado.
Punks? Hippies com amnésia.
Punques? Punks que cursaram a escola de arte.
Relacionamento? Ficar sozinhos juntos.
Religião? Deificar seus defeitos.
O Rock? Tem um grande futuro por trás.
Serviço Militar? Conheça o abatedouro.
Sionismo? Nazismo judeu.
Socialistas? Cordeiros em pele de lobo.
Tédio? Obrigatório para sofisticados.
Tempo Livre? Trabalho pelo qual o chefe não te paga.
Terapia? Castigo sem crime.
Trotskismo? Stalinismo fora do poder.
Utopia? Nostalgia do futuro.
Vegetarianos? Você é o que come.
Vida Após a Morte? Por que esperar?

segunda-feira, 17 de março de 2008

Versão pro cinema (?!) Herbert Richards

A bruxa está solta no mundo quadriculado. A notícia de duas adaptações para o cinema do clássico dos quadrinhos e da animação japonesa Akira (Katsuhiro Otomo) deixou a besta ouriçada. A Warner Bros e Leonardo Di Caprio estão por trás do projeto. Di Caprio será o produtor. Ele manda avisar que o roteiro está fiel ao mangá, por isso a necessidade de dois longas (pra caber as mais de mil páginas da história).
Só esclarecendo umas coisinhas: as “adaptações” serão versões em live-action. Ou seja, com atores reais (nada em animação). A trama muda geograficamente, de Neo-Tóquio para Neo-New(?) York. O ator americano, queridinho do público feminino, também viverá nas telas o protagonista Kaneda (que na verdade não vai mais chamar Kaneda, deram um nome americano pra ele).Vai vendo. Já tão mudando tudo! Vai ser fiel ou não?! Caramba...
Quem já leu "a obra" (que saiu por aqui na década de 90) sabe: o negócio é embaçado. Trata-se de um épico futurista, cheio de sub-plots e personagens secundários (ainda importantes). Tanto que o animê de 1988 (marco indiscutível do gênero, influenciando gente até hoje) não consegue se aprofundar muito, concentrando-se na primeira parte do enredo.
Fica difícil calcular os resultados da empreitada. Imagina-se ser tarefa árdua. Mas uma coisa é certeza: não terá o impacto dos originais.
Ah, a propósito. Para comemorar os 20 anos do lançamento, sai esse ano no Brasil uma caixa especial da animação. Essa será a primeira edição de Akira no país no formato DVD. Antes, só em cassete. Demoro, né?!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Mary Jow!

As séries norte-americanas ainda vão dominar o planeta. Sério. Atualmente todo mundo assiste pelo menos um seriado nos canais pagos da televisão ou baixa-os na internet. Hoje você vai à padaria e duas meninas estão conversando sobre Betty, a Feia (a versão ianque, claro). Depois na acadêmica ouve alguma coisa sobre Prison Break. Na festa em família um grupinho analisa com empenho os últimos episódios da franquia C.S.I. (sei lá o que). Na viagem com os amigos, todos querem a nova temporada de Lost. Isso sem falar em 24 Horas, Heroes, Dexter, Law & Order, House, Gossip Girls, Nip/Tuck, e por aí vai (infinitamente). Pois bem, das séries americanas que estão passando no Brasil, nenhuma é tão atual, polêmica e provocadora quanto Weeds. Na trama, Mary-Louise Parker vive Nancy, uma dona de casa, mãe de dois filhos, que começa a vender maconha depois da morte do marido para sustentar a família e seu estilo de vida. Eu não vou entrar em detalhes sobre a trama pra não estragar as surpresas de quem nunca assistiu. Só adianto que, ao contrário do que o nome possa sugerir, a maconha não é a principal estrela do programa. Na verdade, a criadora (Jenji Kohan) está mais interessada em mostrar o universo social dos subúrbios californianos. A abertura do programa e a música são claras o suficiente para deixarem dúvidas (Little boxes on the hillside/ Little boxes made of ticky-tacky...). A família de Nancy vive em um condomínio-modelo chamado Agrestic, e a trama se desenrola a partir dessa perspectiva. Na carcaça exterior são todos iguais. Principalmente na arquitetura de suas casas, carros, roupas e costumes. Ao longo dos episódios, pela lente de aumento da narrativa, vemos suas diferenças (histórias de vida, linguagens, vícios e virtudes). A protagonista é a verdadeira estrela da séria (interpretação sensacional de Parker). Mesmo com aquela carinha de anjo ela sempre consegue se meter nos piores apuros, esquivando-se (ou não) de policiais, traficantes, vizinhos, filhos e toda gente doida que cruza seu caminho. O resto do elenco também é rápido no gatilho - principalmente a trambiqueira-alcoólatra Célia (a “diva” Elizabeth Perkins). O humor é sarcástico e crítico. Por vezes pesado. Mas depois de três temporadas, a série ainda apresenta possibilidades interessantes para desenvolvimentos futuros (e possíveis desfechos a curto prazo). E você sabe bem como costuma terminar histórias desse tipo...
Pick, pack/Fire up, come along/ And take a hit from the bong...”

terça-feira, 11 de março de 2008

DESCONSTRUINDO MARJANE


Persépolis é um desses filmes que tem tudo para se tornar cult. Daqui alguns anos não serão muitas as pessoas que lembrarão dele, mas quem lembrar (com certeza) será com carinho. Ouso dizer: esse já nasceu clássico!... Subvertendo os clichês norte-americanos do gênero, a animação utiliza técnicas 2D e é quase toda em preto e branco. Adaptada dos quadrinhos autobiográficos de Marjane Satrapi, a história narra a infância e juventude da autora em Teerã – acompanhada pelas mudanças políticas e sociais do Irã. Com a intensificação da guerra contra o Iraque, a família de Marjane decide manda-la pra Europa. A partir daí instara-se um paradoxo na protagonista: a sensação permanente de se sentir estrangeira, mesmo depois de retornar à terra natal. A agilidade da narrativa salta aos olhos logo nas primeiras cenas (com passagens engenhosas). A direção de arte (em animação?) é maravilhosa e cheia de significados ocultos. A edição destila sagacidade, mantendo o ritmo acelerado, sem deixar pontas soltas. Apesar de algumas diferenças dos quadrinhos, a versão cinematográfica é a mais fiel possível, mantendo o clima sóbrio (com algumas interjeições cômicas hilárias)...Talvez o ocidente esteja cansado dos relatos de mulheres exploradas pelos países islâmicos. Talvez por isso o filme não tenha feito muito barulho fora da França – onde gerou polêmica com o governo iraniano durante sua estréia. Talvez esse seja o motivo da premiação de melhor direção em Cannes no ano passado. Pouco importa os bastidores. O que fica é a obra. E essa passará bem pelo teste da ampulheta e da ferrugem.


Nota: Persépolis era a antiga capital do Império Persa.

terça-feira, 4 de março de 2008

Look out kid

O cara é uma lenda da música pop, influenciando Deus e mundo nos últimos 40 anos. O ingresso de seu show em São Paulo é o mais caro da turnê (talvez a última da carreira). Se alguém aí encarar a facada depois me fala como foi. Enquanto isso fique aqui com sua música proto-Beck (fase Loser):

Johnny's in the basement/ Mixing up the medicine/ I'm on the pavement/ Thinking about the government/ The man in the trench coat/ Badge out, laid off/ Says he's got a bad cough/ Wants to get it paid off/ Look out kid/ It's somethin' you did/ God (Jah) knows when/ But you're doin' it again/ You better duck down the alley way/ Lookin' for a new friend/ The man in the coon-skin cap/ In the big pen/ Wants eleven dollar bills/ You only got ten.

Maggie comes fleet foot/ Face full of black soot/ Talkin' that the heat put/ Plants in the bed but/ The phone's tapped anyway/ Maggie says that many say/ They must bust in early May/ Orders from the D. A./ Look out kid/ Don't matter what you did/ Walk on your tip toes/ Don't try "No Doz"/ Better stay away from those/ That carry around a fire hose/ Keep a clean nose/ Watch the plain clothes/ You don't need a weather man/To know which way the wind blows.

Get sick, get well/ Hang around a ink well/ Ring bell, hard to tell/ If anything is goin' to sell/ Try hard, get barred/ Get back, write braille/ Get jailed, jump bail/ Join the army, if you fail/ Look out kid/ You're gonna get hit/ But users, cheaters/ Six-time losers/ Hang around the theaters/ Girl by the whirlpool/ Lookin' for a new fool/ Don't follow leaders/ Watch the parkin' meters.

Ah get born, keep warm/ Short pants, romance, learn to dance/ Get dressed, get blessed/ Try to be a success/ Please her, please him, buy gifts/ Don't steal, don't lift/ Twenty years of schoolin'/ And they put you on the day shift/ Look out kid/ They keep it all hid/ Better jump down a manhole/ Light yourself a candle/ Don't wear sandals/ Try to avoid the scandals/ Don't wanna be a bum/ You better chew gum/ The pump don't work/ 'Cause the vandals took the handles.
(Bob Dylan)

segunda-feira, 3 de março de 2008

E...

na última sexta-feira, no Studio SP, a banda Turbo Trio provou mais uma vez porque é incensada pela crítica, por públicos diversos e por qualquer besta quadrada perdida na balada. Um dos melhores shows brasileiros da atualidade (Rio 50 graus/quem não agüenta passa mal).
Kraftwerk X Bambaataa X 2 live X Baile Funk X Ragga X Daft Punk = Três turbinas a jato + terromoto sonoro.

E...
ontem eu passei perto do chiqueiro na saída do Iron Maiden.
Minhas impressões gerais:

A mulecada parecia bem feliz.
Média de idade: 16 anos.
Aposto que era o primeiro show de muitos ali (ah não, antes teve o Evanescence).
A polícia tava em cima dos metaleiros, enquadrando geral.
Tinha gente sem camisa, sem tênis, sem fígado, sem ouvido, sem noção e sem cérebro.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Jumbo Dumbo/Sangue Doce

Ae jow, saí de casa! Está fazendo um dia lindo (?!) lá fora e cê aí. Ah, tá trabalhando? Fudido também? Não esquenta a cabeça não. Faz assim, espera o expediente acabar e vai pro cinema. (Ou deixa pro domingão, já que você vai encher a cara no happy hour). Sabe como é, nessa época de ressaca do Oscar tem uma porrada de filmes legais em cartaz. Pra todas as tortas e barrigas. Aí vão dois:

Juno é um filme engraçadinho. Talvez engraçadinho demais. Calma, fica tranqüilo que eu gostei de algumas coisas. Tem seus bons momentos, trilha sonora “antenada”, ótima atriz e elenco. Mas esqueceram que a história fala de um tema sério com uma descontração perturbadora. A maneira desencanada que a protagonista encara as mudanças da gravidez é quase irreal. Só passa porque é Hollywood – cidade dos sonhos vale tudo. Mas olha, passa por pouco. Fica parecendo com a história da Mallu Magalhães. Todo mundo falando bem e quando você vê não acha lá essas coisas. A culpa é do hype? Não sei. No final, a excelente bilheteria americana (o que não diz muita coisa) rendeu as indicações de melhor filme (forçada), melhor atriz (justo) – além do Oscar de melhor roteiro original para Diablo Cody (meio besta). Será muito barulho para um filme sessão da tarde? É você quem diz.

Vou logo avisando que eu odeio musical. Geralmente passo longe (com poucas exceções). Minha opinião sempre foi de que não existe nada tão irreal como um musical. O protagonista começar a cantar do nada, no meio de um diálogo, é o cúmulo do insólito. Só que a popular história do barbeiro demoníaco da rua Fleet caí como uma luva na estética gótica de Tim Burton (parece que a obra foi escrita especialmente para o diretor). Esse feliz casamento faz de Sweeney Todd uma obra de arte cine-musical. A sombria Londres do século 19 é palco para o desenvolvimento da história através das ótimas canções de Stephen Sondheim (da versão original da Broadway). A direção de Burton parece ainda mais solta no formato, deixando a música guiar a narrativa tortuosa. Johnny Depp está perfeitamente à vontade na pele de Todd, transbordando melancolia, paixão e ódio. O elenco de apoio (maioria inglês) faz bonito tanto nas canções quanto nas interpretações. A fotografia e a direção de arte (premiada com o Oscar) embrulham o pacote pra presente. Pessoas de estômagos fracos podem ficar incomodados com o banho de sangue na tela (ou com o canibalismo induzido). Azar deles, que não perceberão os toques de humor (vermelho), nem a ironia implícita. Ao sair da sessão urge o desejo de cantar bem alto, para depois cortar a garganta de quem passar na frente.

versículo, vernáculo, ventríloquo, vitáceo

Quem sou eu?
Sou uma besta, um nada. Nem você é alguma coisa. Daqui cem anos quase todas as pessoas que você conhece terá partido. What’s the point for all these shit?!
Quem é você?
Você é uma besta, um nada. Nem eu sou alguma coisa. Faço parte de uma cadeia maior de eventos. Um pedaço ínfimo (pífio) na engrenagem universal. What’s the name you call that thing?
Quem somos nós?
Somos o todo. Todos o um. Somos o nada. E o nada é nenhum. What’s the distance between the earth and the moon?
Square?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

SeLeÇãO nAtUrAl, MuTaÇãO eSpOnTâNeA...

A greve dos roteiristas acabou, a 80ª cerimônia do Oscar passou e (como previsto) não tivemos grandes surpresas. Só a premiação das atrizes pode ter deixado uma dúvida suspensa no ar, para logo ser dissolvida pelas categorias principais. De resto, o mesmo marasmo de sempre. Teve até o momento Rúbes Evaldy Júnior, quando passou no telão os ganhadores de melhor filme dos últimos 79 anos. Edição especial tem dessas coisas também.
E o Oscar fez justiça aos irmãos Coen, que finalmente ganharam os prêmios de melhor direção e melhor filme (além de roteiro adaptado) por Onde os Fracos Não Têm Vez. Javier Barden também ganhou como melhor ator coadjuvante por sua interpretação sinistra do matador “pro/psyco/lecter/chavito” Anton Chigurh... E assim, indiretamente, a academia passa a mão na cabeça de todos os roteiristas, dizendo que tudo vai ficar bem. Que só tinham esquecido do aumento e talz. Ao mesmo tempo, consagram uma carreira cheia de altos (e poucos baixos) de dois irmãos de Minessota.
Os Coen são um caso único em Hollywood. Roteiristas, diretores e editores, síntese do chamado cinema independente americano, talvez sejam os últimos exemplares da espécie em extinção de “cineastas autorais”. Minha paixão fervorosa por seus filmes começou em uma sala de cinema, quando assisti Fargo pela primeira vez. Devia ter uns 14 anos. O filme é meio estranho, é verdade, mas a história cheia de reviravoltas trágicas acaba fisgando pelo estômago. Ainda bem que a estranheza inicial não impediu que procurasse outras fitas dos diretores. Gosto de Sangue (o primeiro deles) e Arizona Nunca Mais (o primeiro flerte com a comédia) – ambos da primeira fase (anos 80) – assisti em fitas VHS. São filmes seguros e sugerem o tipo de dinâmica que seria adotado ao longo da carreira.
Também em cassete vi Barton Fink, para a crítica a obra-prima dos diretores. Pra mim é “só” excelente (brincadeirinha). Com a bagagem dos trabalhos anteriores os diretores estavam livres para criarem uma comédia (?) metalingüística sobre um roteirista aspirante em Hollywood. O filme acabou sendo premiado com a Palma de Ouro em Cannes (1991). Barton Fink, juntamente com Acerto Final (filme de gangster denso, primeira parceria com John Turturro), A Roda da Fortuna (talvez um pequeno passo para trás), Fargo (Oscar de roteiro e atriz) e O Grande Lebowski (essa sim a verdadeira obra-prima) compõem a segunda fase (anos 90).
A terceira fase (anos 2000 em diante) pode ser considerada a mais irregular. Mas não sei se é certo. O Amor Custa Caro (imersão pelo cinema comercial) e Matadores de Velhinhas (comédia com pouca “pegada”) ficaram um pouco abaixo da média, é verdade. Mesmo assim, a década começou bem com E aí meu irmão cadê você? (Genial em todos os sentidos – final memorável) e O Homem que não estava lá (Lúdico e melancólico. Fotografia em PB invejável). Agora eles voltam por cima da carne seca, com o já aclamado Onde os Fracos Não Têm Vez, também magnífico.
A crítica costuma dizer que o trabalho dos Coen é revitalizar gêneros cinematográficos esquecidos, como o Noir, o Gangster e agora o Western. Eu não acredito funcionar dessa maneira. Acho que eles apenas incorporam elementos desses gêneros em suas histórias – metamorfoseando-os para suas necessidades; com uma espécie de reverencia a tradição da “velha Hollywood”. E apesar de “autorais”, seus filmes não possuem um elemento de ligação aparente. Para encontrar o elo perdido é preciso prestar atenção na própria mutação de seus genes. A liberdade para fazer escolhas não convencionais, mergulhar em universos específicos e reinventar narrativas constantemente fazem de seus filmes os mais inventivos da atualidade. No fundo, vamos ao cinema com a certeza de encontrar qualidade cinematográfica, com a assinatura de uma dupla sertaneja.