sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Jumbo Dumbo/Sangue Doce

Ae jow, saí de casa! Está fazendo um dia lindo (?!) lá fora e cê aí. Ah, tá trabalhando? Fudido também? Não esquenta a cabeça não. Faz assim, espera o expediente acabar e vai pro cinema. (Ou deixa pro domingão, já que você vai encher a cara no happy hour). Sabe como é, nessa época de ressaca do Oscar tem uma porrada de filmes legais em cartaz. Pra todas as tortas e barrigas. Aí vão dois:

Juno é um filme engraçadinho. Talvez engraçadinho demais. Calma, fica tranqüilo que eu gostei de algumas coisas. Tem seus bons momentos, trilha sonora “antenada”, ótima atriz e elenco. Mas esqueceram que a história fala de um tema sério com uma descontração perturbadora. A maneira desencanada que a protagonista encara as mudanças da gravidez é quase irreal. Só passa porque é Hollywood – cidade dos sonhos vale tudo. Mas olha, passa por pouco. Fica parecendo com a história da Mallu Magalhães. Todo mundo falando bem e quando você vê não acha lá essas coisas. A culpa é do hype? Não sei. No final, a excelente bilheteria americana (o que não diz muita coisa) rendeu as indicações de melhor filme (forçada), melhor atriz (justo) – além do Oscar de melhor roteiro original para Diablo Cody (meio besta). Será muito barulho para um filme sessão da tarde? É você quem diz.

Vou logo avisando que eu odeio musical. Geralmente passo longe (com poucas exceções). Minha opinião sempre foi de que não existe nada tão irreal como um musical. O protagonista começar a cantar do nada, no meio de um diálogo, é o cúmulo do insólito. Só que a popular história do barbeiro demoníaco da rua Fleet caí como uma luva na estética gótica de Tim Burton (parece que a obra foi escrita especialmente para o diretor). Esse feliz casamento faz de Sweeney Todd uma obra de arte cine-musical. A sombria Londres do século 19 é palco para o desenvolvimento da história através das ótimas canções de Stephen Sondheim (da versão original da Broadway). A direção de Burton parece ainda mais solta no formato, deixando a música guiar a narrativa tortuosa. Johnny Depp está perfeitamente à vontade na pele de Todd, transbordando melancolia, paixão e ódio. O elenco de apoio (maioria inglês) faz bonito tanto nas canções quanto nas interpretações. A fotografia e a direção de arte (premiada com o Oscar) embrulham o pacote pra presente. Pessoas de estômagos fracos podem ficar incomodados com o banho de sangue na tela (ou com o canibalismo induzido). Azar deles, que não perceberão os toques de humor (vermelho), nem a ironia implícita. Ao sair da sessão urge o desejo de cantar bem alto, para depois cortar a garganta de quem passar na frente.

versículo, vernáculo, ventríloquo, vitáceo

Quem sou eu?
Sou uma besta, um nada. Nem você é alguma coisa. Daqui cem anos quase todas as pessoas que você conhece terá partido. What’s the point for all these shit?!
Quem é você?
Você é uma besta, um nada. Nem eu sou alguma coisa. Faço parte de uma cadeia maior de eventos. Um pedaço ínfimo (pífio) na engrenagem universal. What’s the name you call that thing?
Quem somos nós?
Somos o todo. Todos o um. Somos o nada. E o nada é nenhum. What’s the distance between the earth and the moon?
Square?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

SeLeÇãO nAtUrAl, MuTaÇãO eSpOnTâNeA...

A greve dos roteiristas acabou, a 80ª cerimônia do Oscar passou e (como previsto) não tivemos grandes surpresas. Só a premiação das atrizes pode ter deixado uma dúvida suspensa no ar, para logo ser dissolvida pelas categorias principais. De resto, o mesmo marasmo de sempre. Teve até o momento Rúbes Evaldy Júnior, quando passou no telão os ganhadores de melhor filme dos últimos 79 anos. Edição especial tem dessas coisas também.
E o Oscar fez justiça aos irmãos Coen, que finalmente ganharam os prêmios de melhor direção e melhor filme (além de roteiro adaptado) por Onde os Fracos Não Têm Vez. Javier Barden também ganhou como melhor ator coadjuvante por sua interpretação sinistra do matador “pro/psyco/lecter/chavito” Anton Chigurh... E assim, indiretamente, a academia passa a mão na cabeça de todos os roteiristas, dizendo que tudo vai ficar bem. Que só tinham esquecido do aumento e talz. Ao mesmo tempo, consagram uma carreira cheia de altos (e poucos baixos) de dois irmãos de Minessota.
Os Coen são um caso único em Hollywood. Roteiristas, diretores e editores, síntese do chamado cinema independente americano, talvez sejam os últimos exemplares da espécie em extinção de “cineastas autorais”. Minha paixão fervorosa por seus filmes começou em uma sala de cinema, quando assisti Fargo pela primeira vez. Devia ter uns 14 anos. O filme é meio estranho, é verdade, mas a história cheia de reviravoltas trágicas acaba fisgando pelo estômago. Ainda bem que a estranheza inicial não impediu que procurasse outras fitas dos diretores. Gosto de Sangue (o primeiro deles) e Arizona Nunca Mais (o primeiro flerte com a comédia) – ambos da primeira fase (anos 80) – assisti em fitas VHS. São filmes seguros e sugerem o tipo de dinâmica que seria adotado ao longo da carreira.
Também em cassete vi Barton Fink, para a crítica a obra-prima dos diretores. Pra mim é “só” excelente (brincadeirinha). Com a bagagem dos trabalhos anteriores os diretores estavam livres para criarem uma comédia (?) metalingüística sobre um roteirista aspirante em Hollywood. O filme acabou sendo premiado com a Palma de Ouro em Cannes (1991). Barton Fink, juntamente com Acerto Final (filme de gangster denso, primeira parceria com John Turturro), A Roda da Fortuna (talvez um pequeno passo para trás), Fargo (Oscar de roteiro e atriz) e O Grande Lebowski (essa sim a verdadeira obra-prima) compõem a segunda fase (anos 90).
A terceira fase (anos 2000 em diante) pode ser considerada a mais irregular. Mas não sei se é certo. O Amor Custa Caro (imersão pelo cinema comercial) e Matadores de Velhinhas (comédia com pouca “pegada”) ficaram um pouco abaixo da média, é verdade. Mesmo assim, a década começou bem com E aí meu irmão cadê você? (Genial em todos os sentidos – final memorável) e O Homem que não estava lá (Lúdico e melancólico. Fotografia em PB invejável). Agora eles voltam por cima da carne seca, com o já aclamado Onde os Fracos Não Têm Vez, também magnífico.
A crítica costuma dizer que o trabalho dos Coen é revitalizar gêneros cinematográficos esquecidos, como o Noir, o Gangster e agora o Western. Eu não acredito funcionar dessa maneira. Acho que eles apenas incorporam elementos desses gêneros em suas histórias – metamorfoseando-os para suas necessidades; com uma espécie de reverencia a tradição da “velha Hollywood”. E apesar de “autorais”, seus filmes não possuem um elemento de ligação aparente. Para encontrar o elo perdido é preciso prestar atenção na própria mutação de seus genes. A liberdade para fazer escolhas não convencionais, mergulhar em universos específicos e reinventar narrativas constantemente fazem de seus filmes os mais inventivos da atualidade. No fundo, vamos ao cinema com a certeza de encontrar qualidade cinematográfica, com a assinatura de uma dupla sertaneja.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O elo perdido


Surfista/Hippie/Cristão/Motoqueiro/Maconheiro/Ilustrador: Rick Griffin é um ícone da contracultura dos anos 60. Moldou os alicerces do design moderno praticamente sozinho, influenciando inúmeras camadas da sociedade americana. Suas ilustrações psicodélicas são cobertas de significados ocultos e religiosos (sem nunca perder o bom humor). Foi parceiro de Robert Crumb na Zap Comix e fez o primeiro logo da Rolling Stone. Griffin morreu em um acidente de moto (1991). Seu trabalho continua vivo na imaginação de milhares de fãs - dos praticantes de esportes radicais aos adoradores do Grateful Dead.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

L7

Amigos, vamos logo tirar isso do caminho: eu não gosto de nada redondo! Ah? Já falei isso? Bom, vou repetir mesmo assim: cerveja pra mim tem de descer quadrada! (E Skol eu nunca tomei por princípio). Mas falando sério, vida sem esquina não tem graça. De que adianta viver sem encontrar uma parede para desviar. Isso não tem nada de masoquismo. É pela aventura mesmo. Ficar girando num mesmo lugar cansa e deixa tonto.
O círculo, em sua perfeição metida, já foi superado pelo quadrado em diversas áreas da vida humana. Vejam as telas de seus computadores, televisores e cinemas. Enquanto que discos e cd’s são coisa do passado – os arquivos em MP3 (ou 4) chegaram para revolucionar.
Por isso amigos, antes de chamar uma pessoa de quadrada, em sua forma pejorativa (careta ou reacionária), pense bem. Você pode estar ferindo os sentimentos de um individuo bondoso. Mesmo ele sendo uma besta.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Koopa Troopa

E pra surpresa geral da nação, Tropa ganhou o Urso de Ouro em Berlim. E olha, não é pouca bosta não – pelo contrário. É que brasileiro tem mania do Oscar, só porque nunca ganhou um. Berlim tem prestígio também; é tradicional. Agora, se o Costa-Gavras não fosse o presidente do júri provavelmente o ursinho ia parar em cima da geladeira de outro cineasta (europeu ou asiático). Bom pro cinema brasileiro. Quem sabe ganhamos outro prêmio desses daqui dez anos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

NO BRAIN? NO PAIN?/NO PAIN? NO GAIN?

Alex (Gabe Nevins)

Depois de algumas semanas pensando e digerindo, aí vai:

Paranoid Park encerra o que eu aqui vou chamar de “trilogia da alienação” ou “trilogia da juventude” (formada juntamente com Elefante e Last Days). Os três últimos filmes de Gus Van Sant –combinados – compõem um mural sobre a queda dos Estados Unidos do posto de principal potência mundial. Mas esse é só o pano de fundo e quase não aparece. O cineasta está mais interessado em contar a recente história americana pelo ponto de vista de jovens protagonistas – “deslocados” do meio onde vivem. A passividade, a incomunicabilidade e a falta de perspectivas em relação ao futuro são ampliadas por ecos emitidos pelo diretor: longas tomadas sem corte, efeitos em slow, trilha sonora volúvel (ou seria volátil?). Para aumentar o vazio é criado um abismo, um vale depois da montanha; entre os protagonistas e o resto do mundo. A narrativa fragmentada ajuda(,) ao atrapalhar. Aos poucos os pedaços são recolhidos, formando desenhos sinistros – presságios urgentes de uma eminente tragédia. A incerteza pode ser (melhor) assimilada pela beleza plástica da fotografia (Paranoid Park sendo o único com seqüências em super 8) – e pela câmara que acompanha os personagens de longe, mantendo aquela distância segura. O impressionante trabalho com os atores (amadores, na maioria) cria a atmosfera perfeita para a visão naturalista/impressionista de Van Sant. Por toda a trilogia existe uma aura de inocência perdida e desilusão, junto da certeza de que nada será como antes. Alguns podem achar experimental ou artístico demais. E podem até ter razão. Só que estamos falando de um cineasta experiente e contemporâneo. São obras peculiares que capturam o momento presente de forma original, quase como fotos tiradas por uma câmera Polaroid... O último filme é baseado no romance (homônimo) do escritor americano Black Nelson, de 2006 (ainda não lançado no Brasil).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Os marcianos voltaram


Já está disponível na net, para baixar ou ouvir, o último disco do The Mars Volta, Bedlam in Goliath. Enérgico e pesado. Ah, e sem a pretensão do anterior (Amputechture). Pra viajar sem tirar os fones de ouvido.

Sobre meninos e lobos

Minhas desculpas aos poucos leitores fiéis. Essa pausa carnaval/ressaca acabou estendendo-se.

Onde estávamos mesmo? Ah sim, a 50ª edição do Grammy, o “Oscar da música”. A premiação tem o objetivo de destacar os melhores lançamentos da indústria musical, americana e mundial. Os jurados são produtores, empresários, músicos e “gente do meio” – que (teoricamente) entende e vive música 24 horas. Aos moldes do Oscar (com um pouco mais de dinamismo) a cerimônia de premiação costuma ser chata e sonolenta, arrastando-se por horas na madrugada. As apresentações ao vivo são o ponto alto e também o ponto baixo do evento. No geral, todo ano é bem parecido. Aquela sensação de já vi isso em algum lugar.

Amy Winehouse papou os prêmios principais (incluindo Canção do Ano/Rehab). No total cinco gramofones pra ela. Todos merecidos, diga-se de passagem. Kanye West, indicado a oito prêmios, levou quatro (ainda fez um dos melhores shows da noite parceria com o Daft Punk+ homenagem à mãe). Herbie Hancock, correndo por fora, abocanhou o Melhor Disco do Ano.

Mas quer saber? O mais legal é a premiação de discos e gravações de gêneros. Nesse ano estavam disputadas as categorias melhor disco de reggae, dance, rock, rap e música alternativa. Nem sempre vence o melhor. Mas só de estar entre os indicados já é bastante. Sinônimo de qualidade? Não é pra tanto. Lembre-se, ainda estamos atrelados/atolados com a indústria. Ainda assim, nessa sua “edição especial” (como nos últimos anos) o Grammy revela-se ao mesmo tempo maduro e aberto a novas tendências. Essa renovação faz parte de uma mudança no cenário geral, onde a industria é a principal afetada. Novas mídias fabricam novas estrelas em velocidades cada vez maiores. Meninos tornam-se lobos e devoram os irmãos ainda filhotes. Ou acorda ou a maré leva.

O Oscar possui uma linha de raciocínio parecida com seu primo musical. É um prêmio feito pela indústria, para a indústria. E esse ano promete. A greve dos roteiristas tornou a coisa ainda mais charmosa. Velhos lobos do cinema alternativo concorrem aos prêmios de direção, roteiro e melhor filme junto com novatos. A tendência atual é a pulverização entre diversos ganhadores. Os ventos da mudança também sopram nos arredores dos estúdios de cinema. Pode esperar, vai ter pra todo mundo. E não vai sobrar quase nada pra ninguém.