terça-feira, 11 de março de 2008

DESCONSTRUINDO MARJANE


Persépolis é um desses filmes que tem tudo para se tornar cult. Daqui alguns anos não serão muitas as pessoas que lembrarão dele, mas quem lembrar (com certeza) será com carinho. Ouso dizer: esse já nasceu clássico!... Subvertendo os clichês norte-americanos do gênero, a animação utiliza técnicas 2D e é quase toda em preto e branco. Adaptada dos quadrinhos autobiográficos de Marjane Satrapi, a história narra a infância e juventude da autora em Teerã – acompanhada pelas mudanças políticas e sociais do Irã. Com a intensificação da guerra contra o Iraque, a família de Marjane decide manda-la pra Europa. A partir daí instara-se um paradoxo na protagonista: a sensação permanente de se sentir estrangeira, mesmo depois de retornar à terra natal. A agilidade da narrativa salta aos olhos logo nas primeiras cenas (com passagens engenhosas). A direção de arte (em animação?) é maravilhosa e cheia de significados ocultos. A edição destila sagacidade, mantendo o ritmo acelerado, sem deixar pontas soltas. Apesar de algumas diferenças dos quadrinhos, a versão cinematográfica é a mais fiel possível, mantendo o clima sóbrio (com algumas interjeições cômicas hilárias)...Talvez o ocidente esteja cansado dos relatos de mulheres exploradas pelos países islâmicos. Talvez por isso o filme não tenha feito muito barulho fora da França – onde gerou polêmica com o governo iraniano durante sua estréia. Talvez esse seja o motivo da premiação de melhor direção em Cannes no ano passado. Pouco importa os bastidores. O que fica é a obra. E essa passará bem pelo teste da ampulheta e da ferrugem.


Nota: Persépolis era a antiga capital do Império Persa.

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