quarta-feira, 23 de abril de 2008

Bebê Frankenstein

André Abujamra está nu, coberto de sangue e chorando por peito. A imagem aparece na capa de seu segundo trabalho solo, Retransformafrikando, lançado no final do ano passado. Na verdade, Abujamra renasceu. Depois de uma operação para redução de estomago, emagreceu 70 quilos. A mudança deixou o músico mais fluído, direto e urgente. Eu ia falar leve, mas seria redundante... O disco funciona quase como síntese de sua carreira, mas consegue ir além. As características de seus trabalhos anteriores (nas bandas Mulheres Negras e Karnak) estão todas presentes: os instrumentos exóticos, as mudanças de ritmos, a complexidade das composições. E como não poderia deixar de ser, as influências são as mais diversas possíveis. Flerta com rock, reggae, orquestra, samba, bossa, eletrônica, rap e música étnica. Mas ele só flerta, não namora ninguém. Prefere formar uma criatura mutante, sem cara nem rótulo. O passo além fica por conta da acessibilidade das músicas, muito mais próximas do ouvinte besta. As participações especiais são inúmeras, cobrindo quase todo o abecedário (de Andreas Kisser a Xis). Suas novas letras falam sobre o mundo de hoje sob uma perspectiva quase infantil, de uma criança que está vendo o planeta pela primeira vez. A criança geralmente está mais aberta a realidade que o adulto. E as palavras ganham importância tanto pela sonoridade quanto pelo significado. Uma mistura de poesia concreta, cantiga de ninar, provérbios disléxicos e divagações herméticas... Na verdade, a mudança do meu xará é muito mais externa do que interna. Como ele mesmo diz na música que dá nome ao disco “Por isso eu volto/ me transformo/ sem me transformar/ a essência ficou no lugar”. Assim eu proponho um brinde à chegada desse novo guri renascido. Vamos fumar um charuto com o Abu pai e divagar sobre o promissor futuro do rebento.

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