segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

SeLeÇãO nAtUrAl, MuTaÇãO eSpOnTâNeA...

A greve dos roteiristas acabou, a 80ª cerimônia do Oscar passou e (como previsto) não tivemos grandes surpresas. Só a premiação das atrizes pode ter deixado uma dúvida suspensa no ar, para logo ser dissolvida pelas categorias principais. De resto, o mesmo marasmo de sempre. Teve até o momento Rúbes Evaldy Júnior, quando passou no telão os ganhadores de melhor filme dos últimos 79 anos. Edição especial tem dessas coisas também.
E o Oscar fez justiça aos irmãos Coen, que finalmente ganharam os prêmios de melhor direção e melhor filme (além de roteiro adaptado) por Onde os Fracos Não Têm Vez. Javier Barden também ganhou como melhor ator coadjuvante por sua interpretação sinistra do matador “pro/psyco/lecter/chavito” Anton Chigurh... E assim, indiretamente, a academia passa a mão na cabeça de todos os roteiristas, dizendo que tudo vai ficar bem. Que só tinham esquecido do aumento e talz. Ao mesmo tempo, consagram uma carreira cheia de altos (e poucos baixos) de dois irmãos de Minessota.
Os Coen são um caso único em Hollywood. Roteiristas, diretores e editores, síntese do chamado cinema independente americano, talvez sejam os últimos exemplares da espécie em extinção de “cineastas autorais”. Minha paixão fervorosa por seus filmes começou em uma sala de cinema, quando assisti Fargo pela primeira vez. Devia ter uns 14 anos. O filme é meio estranho, é verdade, mas a história cheia de reviravoltas trágicas acaba fisgando pelo estômago. Ainda bem que a estranheza inicial não impediu que procurasse outras fitas dos diretores. Gosto de Sangue (o primeiro deles) e Arizona Nunca Mais (o primeiro flerte com a comédia) – ambos da primeira fase (anos 80) – assisti em fitas VHS. São filmes seguros e sugerem o tipo de dinâmica que seria adotado ao longo da carreira.
Também em cassete vi Barton Fink, para a crítica a obra-prima dos diretores. Pra mim é “só” excelente (brincadeirinha). Com a bagagem dos trabalhos anteriores os diretores estavam livres para criarem uma comédia (?) metalingüística sobre um roteirista aspirante em Hollywood. O filme acabou sendo premiado com a Palma de Ouro em Cannes (1991). Barton Fink, juntamente com Acerto Final (filme de gangster denso, primeira parceria com John Turturro), A Roda da Fortuna (talvez um pequeno passo para trás), Fargo (Oscar de roteiro e atriz) e O Grande Lebowski (essa sim a verdadeira obra-prima) compõem a segunda fase (anos 90).
A terceira fase (anos 2000 em diante) pode ser considerada a mais irregular. Mas não sei se é certo. O Amor Custa Caro (imersão pelo cinema comercial) e Matadores de Velhinhas (comédia com pouca “pegada”) ficaram um pouco abaixo da média, é verdade. Mesmo assim, a década começou bem com E aí meu irmão cadê você? (Genial em todos os sentidos – final memorável) e O Homem que não estava lá (Lúdico e melancólico. Fotografia em PB invejável). Agora eles voltam por cima da carne seca, com o já aclamado Onde os Fracos Não Têm Vez, também magnífico.
A crítica costuma dizer que o trabalho dos Coen é revitalizar gêneros cinematográficos esquecidos, como o Noir, o Gangster e agora o Western. Eu não acredito funcionar dessa maneira. Acho que eles apenas incorporam elementos desses gêneros em suas histórias – metamorfoseando-os para suas necessidades; com uma espécie de reverencia a tradição da “velha Hollywood”. E apesar de “autorais”, seus filmes não possuem um elemento de ligação aparente. Para encontrar o elo perdido é preciso prestar atenção na própria mutação de seus genes. A liberdade para fazer escolhas não convencionais, mergulhar em universos específicos e reinventar narrativas constantemente fazem de seus filmes os mais inventivos da atualidade. No fundo, vamos ao cinema com a certeza de encontrar qualidade cinematográfica, com a assinatura de uma dupla sertaneja.

7 comentários:

Daniel Boa Nova disse...

Muito bom o post.

Ainda não vi o ganhador do Oscar, então meu top 3 Irmãos Coen fica assim:

- E aí meu Irmão
- O grande Lebowski
- Arizona Nunca Mais

Anônimo disse...

Bom, além do que vc falou, talvez outro traço em comum de (quase) todos os filmes dos Coen seja o humor meio... um pouco... sei lá... tipo o cabelo do Javier Bardem... tipo o John Goodman jogando as cinzas do amigo fora no Grande Lebowski... tipo o sotaque caipira de Fargo ("iaaah")... enfim, um humor prórpio deles.

Meus preferidos:
- Onde os Fracos não tem Vez
- O Grande Lebowski
- Barton Fink

Só tem uma coisa que me incomoda: quando o Oscar começa a gostar dos filmes que eu gosto, sei não, viu...

Anônimo disse...

A propósito, o comentário acima foi meu.

MOL

Square Beast disse...

Já que tá todo mundo fazendo, segue o meu top 3 dos Coen:

- Grande Lebowski
- E aí meu irmão?
- Barton Fink

Onde os fracos ainda preciso de um tempo para digerir melhor. Mas com certeza está entre os melhor

Mol, acho que a academia não quer cometer a mesmo injustiça que fizeram com o Scorcese, por isso os premios de melhor filme e direção. Ou foi uma forma de fazer as pazes com os roteiristas em geral..

Abraços.

Luís Pereira disse...

Ótimo post! Mas, sinceramente, gostei de Onde os fracos não tem vez, mas não tanto.

ortiz disse...

fico com o lebowski!



ainda num assisti os outros......

João Prado disse...

Onde os Fracos Não têm Vez
Fargo
...