quinta-feira, 29 de maio de 2008

Quem tem bit tem tudo

Uma coletânea com os maiores sucessos da carreira sempre cheira oportunismo barato. Cifrões e cifrões dentro das carteiras. Mas esse não é o caso do lançamento de Combat Samba – E se a gente seqüestrasse o trêm das 11?, da banda pernambucana Mundo Livre S.A.
Espécie de the best of, o disco traz músicas de todas as fases dos mais de vinte anos de estrada do grupo, selecionadas pelo produtor musical e jurado de TV, Carlos Eduardo Miranda, com comentários do vocalista e compositor verborrágico, Fred 04. A compilação tenta fazer a aproximação das antigas canções com os fãs mais jovens, que não tinham idade para entender as letras na época de seus lançamentos originais e pegaram o bonde andando.
O Mundo Livre S.A. é pedra fundamental no manguebeat, possui uma música original e transcendental, muito além dos rótulos jornalísticos. Ainda assim, nunca tiveram um hit, um sucesso popular radiofônico. Nem o reconhecimento devido. Talvez seja a banda mais injustiçada da história da música brasileira. Incensado pela crítica e rejeitado pela massa.
Combat Samba chega às lojas tentando corrigir esse erro histórico, enquanto que indiretamente eleva ainda mais o patamar de importância do grupo. As músicas envelheceram bem nesses anos. Destaque para os clássicos: Livre Iniciativa, Salto de Aratú, Terra Escura (do primeiro disco, Samba Esquema Noise) e Seu Suor é o Melhor de Você (do segundo, Guentando a Ôia). Se você nunca escutou, não sabe o que está perdendo. E pra não falar que tudo são flores, algumas boas faixas ficaram de fora, como Free World, Quarta Parede e Por Pouco (quem sabe num álbum duplo?)
O primoroso projeto gráfico é assinado por Jorge Du Peixe e Valentina Trajano (Arteria). Ah, e nem preciso dizer de onde 04 tirou a inspiração do título, né?

segunda-feira, 19 de maio de 2008

E estamos conversados

Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante
que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando,
que eles querem mesmo é reclamar,
como uma risada na minha orelha, ou como uma abelha, ou qualquer outra coisa pentelha,
sobre as vidas alheias, ou como elas são feias,
ou como estão cheias de tanto esconderem segredos
que todo mundo já sabe, ou se não sabe desconfia.
Eu não vou mais ficar ouvindo distraído eles falarem deles e do que eles fariam se fossem com eles
e do que eles não fazem de jeito nenhum, como se interessasse a qualquer um.
Eles são: as pessoas, todas as pessoas, fora os mudos.
Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois,
falem longe da minha janela, por favor, se for para falar do meu amor.
Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador.
Campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais, pelo menos por enquanto.
Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico.
E estamos conversados.

Arnaldo Antunes

ps: Besta em crise