segunda-feira, 28 de abril de 2008

notes from a nerd’s front...(part 1)

E mais um mangá/animê de sucesso será adaptado para as telas dos cinemas com atores reais (live-action). Agora é a vez de Ghost in the Shell. Pra quem não conhece, o mangá criado por Masamume Shirow ficou famoso quando os irmãos Wachowski se “inspiraram” no enredo (e na estética) da versão animê para conceberem Matrix. A história é uma mistura de Blade Runner com filosofia existencialista. Os direitos foram comprados pela DreamWorks e, segundo consta, o filme será desenvolvido com tecnologia de projeção em 3-D (!). A franquia fez sucesso e ganhou duas seqüências animadas (além de uma série televisiva). GitS2: Innocence (2004) foi segunda animação a ser indicada à Palma d’Ouro (a primeira havia sido Peter Pan, em 1957). No Brasil, o primeiro filme foi lançado com o nome nada sugestivo de Fantasma do Futuro. Procura na locadora.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O MC DO AMOR

Com dois EPs lançados quase simultaneamente, o rapper De Leve pode ser considerado um workaholic no meio do rap. Depois do excelente “Manifesto ½ 171” ele volta a cena, agora cercando por todos os lados. Primeiro veio o EP solo de cinco músicas intitulado De Love. Depois lançou seu projeto paralelo – junto com o Flu (ex-De Falla) – a Banda Leme. Ambos os discos são curtinhos e saíram somente em formato digital. Dá pra baixar no Trama Virtual, que você não paga nada e eles recebem um trocado. Segue as resenhas, faixa a faixa.
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De Love:
Sempre a caminhar – Música esperta. Tem um discurso diferente do habitual, com uma positividade que lembra os melhores momentos do B. Negão. Antidepressivo nos ouvidos.
O que que você conta – Com synth de teclado repetitivo e refrão lá, lá, lá, essa é calminha, calminha (tem até um violino manso). Pra relaxar no domingo de manhã.
Pra ser feliz – Com participação do cantor Totonho, a música é insana. Mostra como o MC fica a vontade em qualquer situação.
O que que nego quer – Funk/Pop sem vergonha de ser feliz. Ouviu mais de uma vez e fudeu, o refrão fica na cabeça pra sempre. Um dos destaques do disco.
Quero-te bem – Lembra a fase antiga do rapper, dos tempos do “Introduzindo”. Base jazz com vocal afinado. O papo aqui é romantismo. Quem disse que caramujo não tem coração?
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Banda Leme:
Nadadora – Algumas meninas podem ficar ofendidas, mas essa música (pop até o osso) fisga pelo cerne. Mistura de Latino com Barry White. O resultado é surpreendente. Cuidado! Outro refrão chiclete.
Amor 100 remédio – Mais uma prova que De Leve é um dos MC’s mais criativos da atualidade. A rima quebra tudo sem cair no convencional. A base também se destaca pela originalidade.
Não te dou – Começa meio ragga, com vocal sincopado. Depois desbanca pro eletro/ska, se é que isso existe. Outro refrão absurdo de bom.
Vingativo –Excursão na mistura de rap com samba. Funciona bem por causa do surdo onipresente.
Com bola e tudo – Diferente até para os padrões da banda. A letra sobre futebol deixa espaço para o duplo sentido freqüente. O baixão é nervo!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Bebê Frankenstein

André Abujamra está nu, coberto de sangue e chorando por peito. A imagem aparece na capa de seu segundo trabalho solo, Retransformafrikando, lançado no final do ano passado. Na verdade, Abujamra renasceu. Depois de uma operação para redução de estomago, emagreceu 70 quilos. A mudança deixou o músico mais fluído, direto e urgente. Eu ia falar leve, mas seria redundante... O disco funciona quase como síntese de sua carreira, mas consegue ir além. As características de seus trabalhos anteriores (nas bandas Mulheres Negras e Karnak) estão todas presentes: os instrumentos exóticos, as mudanças de ritmos, a complexidade das composições. E como não poderia deixar de ser, as influências são as mais diversas possíveis. Flerta com rock, reggae, orquestra, samba, bossa, eletrônica, rap e música étnica. Mas ele só flerta, não namora ninguém. Prefere formar uma criatura mutante, sem cara nem rótulo. O passo além fica por conta da acessibilidade das músicas, muito mais próximas do ouvinte besta. As participações especiais são inúmeras, cobrindo quase todo o abecedário (de Andreas Kisser a Xis). Suas novas letras falam sobre o mundo de hoje sob uma perspectiva quase infantil, de uma criança que está vendo o planeta pela primeira vez. A criança geralmente está mais aberta a realidade que o adulto. E as palavras ganham importância tanto pela sonoridade quanto pelo significado. Uma mistura de poesia concreta, cantiga de ninar, provérbios disléxicos e divagações herméticas... Na verdade, a mudança do meu xará é muito mais externa do que interna. Como ele mesmo diz na música que dá nome ao disco “Por isso eu volto/ me transformo/ sem me transformar/ a essência ficou no lugar”. Assim eu proponho um brinde à chegada desse novo guri renascido. Vamos fumar um charuto com o Abu pai e divagar sobre o promissor futuro do rebento.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

É o amoooor...

Comentar o trabalho de algum amigo é sempre difícil. A suposta imparcialidade crítica geralmente deixa ser contaminada pelo apreço ao individuo. O carinho pela pessoa amiga cega os defeitos visíveis. A partir daí é ladeira abaixo e o foda-se ligado (né não, “mídia especializada”?). Por esse motivo, jornalisticamente falando, eu não poderia escrever sobre Arrufos, a mais nova peça do Grupo XIX de Teatro. É que eu tenho uma grande amiga no elenco, então não poderia. Mesmo assim, vou ligar o f..., ops desencana... Falando sério, só quem já assistiu aos espetáculos dessa turma da Vila Maria Zélia sabe: o trabalho deles é acima de qualquer suspeita. Eu nem preciso medir as palavras porque isso seria uma injustiça. Hysteria foi genial e inovador. Hygiene instigante e lírico. Em Arrufos, o grupo parece estar no auge da inventividade e exuberância. Pra quem não conhece, todos esses espetáculos são interativos, dependendo muito da resposta da platéia para conseguir os resultados esperados (e também os inesperados). Arrufos disserta sobre o amor em diferentes perspectivas históricas. A ligação entre as narrativas é uma pequena linha dourada, brilhante na escuridão. Uma teia em espiral que compõem divagações precisas sobre esse tema tão presente (ainda ausente) na vida de todos. Tudo bem, eu posso ser suspeito pra falar. Mas olha, se você ainda tiver alguma dúvida, tenta conferir as últimas apresentações nos próximos finais de semana (se já não estiverem lotadas). A peça, em cartaz desde o final de fevereiro, fica até o dia 27 de abril (com possível prorrogação por mais um mês). Ás sextas, sábados e domingos, lá naquela vila irada da zona leste, construída no começo do século XX (nem parece Sampa). O passeio ideal para levar o seu bem-amado.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

WHO'S BAD?!

Chegamos! Dez minutos na porta, tomando umas nem tão geladas. Mas tá valendo, nada iria estragar a noite. Afinal, era o Bad Brains, em apresentação única e inédita em São Paulo. Ou seja, pra marcar com ferro, fogo e fumaça. “Tu chegou pra marcar, tu chegou pra festa”. Os caras da banda estavam logo ali em cima, olhando o movimento e se concentrando com um cigarrinho que passarinho não fuma. O público era uma mistura de jovencitos com uma galera das antigas. Muita gente parece parada no tempo, perdida em algum lugar entre os anos 80 e 90... Preciso ir ao banheiro e saio na frente – “encontro vocês lá dentro”. Entro e sinto o clima. Pelas caixas, só clássicos do HC. Depois do alívio e da fila pra cerva, retomo o contado com a base. Mais um tempinho trocando idéia e nesse meio tempo vemos figuras famosas. Primeiro foi o Califórnia, com aquela cara de mal encarado. Ontem ele tava de bom humor (meio raro). A conversa flui sobre bandas. O Cali é old school, sabe das coisas. De uma hora pra outra ele some, sem deixar vestígios. Depois passam na nossa frente JG (João Gordo) e PG (Pitty Grávida). E olha que eu não reparo muito em celebridades. Mas não tem jeito, onde eles passam as pessoas olham e apontam (eu não, eu só comento com o amigo do lado. Sua mão não lhe ensinou que é feio apontar?). (Ainda segundo fontes confiáveis, Jão e Boca também estavam presentes, saídos diretamente de um ensaio do Ratos). A tensão aumenta. Tá na hora, tá na hora...
Sailing the Seas of Cheese
O show começa! Eu quero ir lá pra frente e esse é o melhor momento para se fazer isso. Estão todos pulando empolgados e você vai criando espaço na marra. Ninguém reclama porque sabem como essas coisas funcionam. Dr. Know nem completou seu segundo acorde e a pista já parece uma praça de guerra. “Give Thanks and Praises to the Looooooord...” A roda é grande e como uma maré enfurecida me leva pra pertinho do palco. De tão perto, dava pra roubar o microfone do vocalista substituto do H.R., Israel Joseph I, que mandou muito e até trocou umas palavras com a platéia (num português arcaico)... O local parece tese de mestrado do curso antropologia da PUC: carecas, rastas, punks e hardcores se trombam na santa paz do senhor. Todos seguem um código velado de bom comportamento. Nada de soco acima do pescoço! O empurra-empurra continua até nas músicas reggae, claro que em menor escala. O único princípio de treta veio quando um sem noção dá um mosh caindo de pé, pisando na cabeça de um maluco grande... Irmão, o mosh (ou stage dive) é uma arte. Você precisa escolher o melhor lugar para pular. Precisa pular de uma maneira própria, meio deitada, pra não machucar os outros (e você próprio). Mas vale a pena passar pelo curso. Aquele meio segundo suspenso no ar, voando, parece uma vida. Sensação de liberdade pura... Mas voltando a treta, graças a Jah não aconteceu nada, a noite era de confraternização. E ficou por isso mesmo... Depois e perder o isqueiro e conseguir acha-lo sem querer no chão de sabão (bizarro), voltamos pro bar. Longe do tumulto, pegamos as últimas brejas, repondo as energias. Mais três músicas e o show acaba. Uma hora e meia de adrenalina. Pra entrar pra história. Voltamos pra casa com a sensação de dever cumprido.

PS: Nada do Caio. Temo que tenha sido recrutado pelo grupo dos carecas. Tentaram comigo (mas eu já tenho religião).

terça-feira, 8 de abril de 2008

América Selvagem

Eu não costumo falar de política nesse espaço. Ás vezes entra o assunto religião, mas de forma bem superficial. Light até. Cômica, diriam alguns... Apesar de meu profundo interesse, tais assuntos não são minha “especialidade”. Então, prefiro passar longe... No entanto, a notícia do desmembramento de um rancho de fundamentalistas mórmons no Texas foi a deixa para o post... No último final de semana a polícia texana, graças a denuncia de uma adolescente que sofria abusos do marido (34 anos mais velho), invadiu um rancho no interior do estado onde viviam isolados do mundo integrantes da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, seita polígama dissidente da Igreja Mórmon. A polícia retirou do local cerca de 400 crianças e 130 mulheres. Para se ter uma vaga idéia, os seguidores da Igreja pregam que o homem deve ter no mínimo três mulheres (com base em interpretações da própria Bíblia). Muitas meninas são forçadas ao matrimônio por meio de casamentos arranjados pelos pais. Algumas possuem (ou são possuídas por) maridos antes mesmo de entrarem na puberdade. A legislação americana considera a poligamia um crime grave. Relações sexuais com menores devem ser tratadas como estupro e pedofilia. Para fugir das garras da polícia, os fiéis costumam se esconder em regiões afastadas da população. Pequenos municípios de estados como o Texas, Utah e a divisa com o Canadá são os locais ideais. Se você nunca tinha ouvido falar nesses absurdos, a história da religião mórmon é extremamente bem documentada no livro Pela Bandeira do Paraíso (Companhia das Letras), escrito pelo jornalista americano Jon Krakauer. O autor parte de um crime especifico, ocorrido em 1984, para traçar um panorama da religião e seu histórico de violência. Quem sou eu para questionar a crença alheia. Cada um segue o Deus que achar melhor (eu mesmo sou devoto do polêmico Deus Quadrado). Só que nesses casos, os acusados tentam se esconder atrás da lei de liberdade religiosa para continuar cometendo crimes hediondos e doentios.
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Depois da insistência de amigos diversos, revolvi conferir Na Natureza Selvagem (Into The Wild). O filme, dirigido por Sean Penn (que também assina o roteiro), é uma adaptação de um outro livro (homônimo) de Krakauer. A fita é deslumbre visual. Fiquei impressionado com as imagens e a fotografia. A história (real) do aventureiro solitário é empolgante e contestadora. Em alguns momentos a narrativa desacelera um pouco, o que pode cansar alguns. Nada que prejudique o resultado final. Surpresa pra mim, ainda existe vida inteligente no interior americano. Claro que não é religiosa. Os índios foram embora faz tempo.

terça-feira, 1 de abril de 2008

PARA VER E OUVIR (não necessariamente nessa ordem)...

Estréia nessa sexta-feira (4 de abril) o documentário de Martin Scorsese, Shine a Light. O filme, que traz um show mais “intimista” dos Rolling Stones, deve encher ainda mais os cofres dos vovôs. Se você não consegue esperar de tanta ansiedade, a Besta dá a letra de cinco documentários musicais (ou compilações de shows) que foram recentemente lançados no Brasil, em DVD. Sobe o som, tiozão:

Amazing Journey: The Story Of The Who (Registro definitivo da banda inglesa, cobrindo os altos e baixos da carreira. Curiosidades de bastidores é o que não falta. Tudo sem pudor ou censura. No final, os músicos sobreviventes deixam no ar a intenção de gravar coisas novas. Será que teremos outra reunião de dinossauros?).

The Ramones: It´s Alive 1974-1996 (Apresentações ao vivo em diversas partes do mundo, em fases diferentes da carreira, da maior banda punk de todos os tempos. Pena que o Brasil ficou de fora (a Argentina não). Obrigatório é pouco. Essencial).

Miles Electric: A Different Kind of Blue (Filme só sobre a fase elétrica do trompetista. No final dos anos 60, influenciado pelo rock de Hendrix, o funk do Sly Family e a contra-cultura hippie, Miles Davis decide plugar os instrumentos de sua banda para alçar vôos ainda mais altos. Contextualizando o período, entrevistas com os músicos que participaram da revolução elétrica. De bônus, a apresentação antológica (e completa) durante o Festival da Ilha de Wight... mind-blowing).

Botinada! A Origem do Punk no Brasil (Estréia do ex-VJ Gastão Moreira na direção de documentários. Misturando imagens de arquivo com entrevistas dos remanescentes da época, o filme é um excelente registro do nascimento do punk nacional. Para quem quer tentar entender o fenômeno HC no Brasil, esse é o primeiro passo. Quer dizer, o primeiro chute na cara).

Endless Harmony – The Story of The Beach Boys (A perturbadora história dos meninos da Califórnia que tiveram de virar homens de um dia para o outro. A pressão vinha de todos os lados, inclusive dos Beatles. No começo, um som despretensioso e feliz. Depois, composições intricadas e soturnas. Não é de se estranhar que eles desvirtuaram pra sempre. Surf, drogas e rock n’ roll. Não necessariamente nessa ordem).