
"A mente adora imagens cujo significado é desconhecido, uma vez que o próprio significado da mente é desconhecido"
René Magritte (1898-1967)
...para aqueles que teimam em acreditar que a terra é quadrada e que a pior invenção do homem foi a roda.




Estava com esse post pronto na semana retrasada, mas por respeito aos meus amigos mosqueteiros revolvi segurar um pouco. É porque eu não gosto de provocação e o tema foi pura coincidência. Mesmo (nada pessoal). Passado o baque, segue o som:
Ainda meio desconhecido no Brasil, o rapper americano Lupe Fiasco é um desses artistas que se equilibram na corda bamba entre o underground e o mainstream. Seu segundo disco, “The Cool”, era sua prova de fogo – e ele acerta no alvo. Em metade do álbum as canções trazem o apelo pop típico das rádios brasileiras com programação baseada na chamada “black music”. Mas, calma! O artista, que poderia se tornar mais um 50 Cent da vida, foge do óbvio e bebe de fontes mais puras. As músicas mais... (digamos...) “comerciais”, são intercaladas por outras mais... cabeçudas (tem até a participação do guru eletrônico UNKLE). A maioria das faixas possui bases elaboradas e criativas, fazendo essas distinções de gênero quase obsoletas. As letras do rapper também abordam temas não convencionais dentro do estilo, ou seja, nada de carrões, mulheres nuas e cordões de ouro. No lugar entram skate, religião, um pouco de política e videogames...“I like street fighter two/ I just really hate Zangeif/ Only Ken and Ryu/ I find it hard to beat Blanka/ Keep a wee ninja hanging and the UNKLE album banging”, ele canta na música Gold Watch. Em alguns momentos lembra o De La Soul. Mas a cartilha de Lupe é outra, a mesma de Kanye West. Não à toa os dois estão juntos na turnê Glow in the Dark, que ainda tem a mega Rihanna e o projeto N.E.R.D. Agora, a única coisa que eu posso dizer é: prepare-se, mesmo sem se dar conta, você ainda vai ouvir o som desse cara.
Uma coletânea com os maiores sucessos da carreira sempre cheira oportunismo barato. Cifrões e cifrões dentro das carteiras. Mas esse não é o caso do lançamento de Combat Samba – E se a gente seqüestrasse o trêm das 11?, da banda pernambucana Mundo Livre S.A.
André Abujamra está nu, coberto de sangue e chorando por peito. A imagem aparece na capa de seu segundo trabalho solo, Retransformafrikando, lançado no final do ano passado. Na verdade, Abujamra renasceu. Depois de uma operação para redução de estomago, emagreceu 70 quilos. A mudança deixou o músico mais fluído, direto e urgente. Eu ia falar leve, mas seria redundante... O disco funciona quase como síntese de sua carreira, mas consegue ir além. As características de seus trabalhos anteriores (nas bandas Mulheres Negras e Karnak) estão todas presentes: os instrumentos exóticos, as mudanças de ritmos, a complexidade das composições. E como não poderia deixar de ser, as influências são as mais diversas possíveis. Flerta com rock, reggae, orquestra, samba, bossa, eletrônica, rap e música étnica. Mas ele só flerta, não namora ninguém. Prefere formar uma criatura mutante, sem cara nem rótulo. O passo além fica por conta da acessibilidade das músicas, muito mais próximas do ouvinte besta. As participações especiais são inúmeras, cobrindo quase todo o abecedário (de Andreas Kisser a Xis). Suas novas letras falam sobre o mundo de hoje sob uma perspectiva quase infantil, de uma criança que está vendo o planeta pela primeira vez. A criança geralmente está mais aberta a realidade que o adulto. E as palavras ganham importância tanto pela sonoridade quanto pelo significado. Uma mistura de poesia concreta, cantiga de ninar, provérbios disléxicos e divagações herméticas... Na verdade, a mudança do meu xará é muito mais externa do que interna. Como ele mesmo diz na música que dá nome ao disco “Por isso eu volto/ me transformo/ sem me transformar/ a essência ficou no lugar”. Assim eu proponho um brinde à chegada desse novo guri renascido. Vamos fumar um charuto com o Abu pai e divagar sobre o promissor futuro do rebento. 
A bruxa está solta no mundo quadriculado. A notícia de duas adaptações para o cinema do clássico dos quadrinhos e da animação japonesa Akira (Katsuhiro Otomo) deixou a besta ouriçada. A Warner Bros e Leonardo Di Caprio estão por trás do projeto. Di Caprio será o produtor. Ele manda avisar que o roteiro está fiel ao mangá, por isso a necessidade de dois longas (pra caber as mais de mil páginas da história).
As séries norte-americanas ainda vão dominar o planeta. Sério. Atualmente todo mundo assiste pelo menos um seriado nos canais pagos da televisão ou baixa-os na internet. Hoje você vai à padaria e duas meninas estão conversando sobre Betty, a Feia (a versão ianque, claro). Depois na acadêmica ouve alguma coisa sobre Prison Break. Na festa em família um grupinho analisa com empenho os últimos episódios da franquia C.S.I. (sei lá o que). Na viagem com os amigos, todos querem a nova temporada de Lost. Isso sem falar em 24 Horas, Heroes, Dexter, Law & Order, House, Gossip Girls, Nip/Tuck, e por aí vai (infinitamente). Pois bem, das séries americanas que estão passando no Brasil, nenhuma é tão atual, polêmica e provocadora quanto Weeds. Na trama, Mary-Louise Parker vive Nancy, uma dona de casa, mãe de dois filhos, que começa a vender maconha depois da morte do marido para sustentar a família e seu estilo de vida. Eu não vou entrar em detalhes sobre a trama pra não estragar as surpresas de quem nunca assistiu. Só adianto que, ao contrário do que o nome possa sugerir, a maconha não é a principal estrela do programa. Na verdade, a criadora (Jenji Kohan) está mais interessada em mostrar o universo social dos subúrbios californianos. A abertura do programa e a música são claras o suficiente para deixarem dúvidas (Little boxes on the hillside/ Little boxes made of ticky-tacky...). A família de Nancy vive em um condomínio-modelo chamado Agrestic, e a trama se desenrola a partir dessa perspectiva. Na carcaça exterior são todos iguais. Principalmente na arquitetura de suas casas, carros, roupas e costumes. Ao longo dos episódios, pela lente de aumento da narrativa, vemos suas diferenças (histórias de vida, linguagens, vícios e virtudes). A protagonista é a verdadeira estrela da séria (interpretação sensacional de Parker). Mesmo com aquela carinha de anjo ela sempre consegue se meter nos piores apuros, esquivando-se (ou não) de policiais, traficantes, vizinhos, filhos e toda gente doida que cruza seu caminho. O resto do elenco também é rápido no gatilho - principalmente a trambiqueira-alcoólatra Célia (a “diva” Elizabeth Perkins). O humor é sarcástico e crítico. Por vezes pesado. Mas depois de três temporadas, a série ainda apresenta possibilidades interessantes para desenvolvimentos futuros (e possíveis desfechos a curto prazo). E você sabe bem como costuma terminar histórias desse tipo... 