sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

NO BRAIN? NO PAIN?/NO PAIN? NO GAIN?

Alex (Gabe Nevins)

Depois de algumas semanas pensando e digerindo, aí vai:

Paranoid Park encerra o que eu aqui vou chamar de “trilogia da alienação” ou “trilogia da juventude” (formada juntamente com Elefante e Last Days). Os três últimos filmes de Gus Van Sant –combinados – compõem um mural sobre a queda dos Estados Unidos do posto de principal potência mundial. Mas esse é só o pano de fundo e quase não aparece. O cineasta está mais interessado em contar a recente história americana pelo ponto de vista de jovens protagonistas – “deslocados” do meio onde vivem. A passividade, a incomunicabilidade e a falta de perspectivas em relação ao futuro são ampliadas por ecos emitidos pelo diretor: longas tomadas sem corte, efeitos em slow, trilha sonora volúvel (ou seria volátil?). Para aumentar o vazio é criado um abismo, um vale depois da montanha; entre os protagonistas e o resto do mundo. A narrativa fragmentada ajuda(,) ao atrapalhar. Aos poucos os pedaços são recolhidos, formando desenhos sinistros – presságios urgentes de uma eminente tragédia. A incerteza pode ser (melhor) assimilada pela beleza plástica da fotografia (Paranoid Park sendo o único com seqüências em super 8) – e pela câmara que acompanha os personagens de longe, mantendo aquela distância segura. O impressionante trabalho com os atores (amadores, na maioria) cria a atmosfera perfeita para a visão naturalista/impressionista de Van Sant. Por toda a trilogia existe uma aura de inocência perdida e desilusão, junto da certeza de que nada será como antes. Alguns podem achar experimental ou artístico demais. E podem até ter razão. Só que estamos falando de um cineasta experiente e contemporâneo. São obras peculiares que capturam o momento presente de forma original, quase como fotos tiradas por uma câmera Polaroid... O último filme é baseado no romance (homônimo) do escritor americano Black Nelson, de 2006 (ainda não lançado no Brasil).

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala Yogaman,

Tambem fiquei um tempo digerindo o filme, assim como Alex (o mesmo nome do delinquente de Laranja Mecânica) levou um tempo para digerir a grotesca e impressionante imagem do guarda noturno...

Não acho que esses filmes sejam um mural sobre a queda dos EUA como primeira potência do mundo, mas acho que isso pode até ter a ver, como contexto para a inércia dos jovens personagens de Gus Van Sant.

Ao contrário de Alex do Laranja Mecânica - que representaria o jovem de hoje, já que o filme de Kubrick se passa nos dias de hoje - o Alex de Paranoid Park não tem intensão alguma no seu ato violento, não tem perversidade. Não há motivos concretos, não há razão, não há intensão.

Talvez esses filmes de Gus Van Sant só sejam digeridos daqui uns anos, porque somos nós, jovens, que estamos estampados na tela. E não conseguimos fazer uma análise precisa das nossas vidas enquanto ainda estamos atuando no palco, diante da platéia.

Sinceramente, algo me inquieta em Elefante e Paranoid Park, mas, sinceramente, eu não sei o que é.

MOL